quinta-feira, 28 de abril de 2011

Atividades escolares - 8ª série/9º ano - O imperialismo na África

Atividades - 8ª série/9º ano

01 - Observe todos os mapas que se seguem e responda (na seção comentários) as perguntas apresentadas.

Divisão do continente africano considerando suas fronteiras étnicas.

A partilha da África pelas potências imperialistas.

Mapa atual do continente africano.

Agora responda:
a) Que semelhanças ou diferenças você pode apresentar entre os três mapas acima?

b) A partilha da África levou em consideração os limites e fronteiras entre os diversos grupos étnicos que viviam no continente? Por quê? Quais foram as principais consequências da divisão imposta pelos europeus?

c) Após se tornarem independentes, os países africanos voltaram às antigas fronteiras étnicas? Por quê? (Analise o mapa 03).

02 - Analise o vídeo abaixo e depois produza um comentário sobre as impressões que você teve sobre ele.
Continente africano e imperialismo

domingo, 10 de abril de 2011

O massacre em Realengo, Rio de Janeiro (RJ): bullying ou fanatismo religioso

Por Luciano Borges de Santana

O dia 07/04/11 ficará para sempre marcado na história do Brasil. Assim como ocorreu com a Chacina da Candelária na madrugada de 1993 (onde seis menores e dois adultos sem teto foram brutalmente assassinados por policiais militares), o massacre em Realengo será tristemente lembrado pela frieza, crueldade e circunstâncias bizarras em que fora provocado. A tragédia chocou o país e deixou uma enorme massa de brasileiros bastante preocupada. Afinal, a tragédia atingiu crianças em uma escola pública, que em sua grande maioria são frequentadas por filhos de trabalhadores que não podem pagar por uma escola particular. Contudo, o mesmo sentimento também atingiu os pais que possuem filhos matriculados em escolas particulares.
Não desejo discutir a cronologia dos eventos, algo que já vem sendo feito ostensivamente pela mídia. Quero refletir (sem ter a pretensão de ser a última palavra), sobre as causas que motivaram um massacre tão covarde, brutal e desumano como esse. O que pode existir no imaginário de um ser humano que leve-o a praticar uma atitude dessa natureza? Eram questões como essa que muitas pessoas discutiam no Brasil nas primeiras horas após a tragédia. Mas, a descoberta de uma carta deixada por Wellington Menezes de Oliveira acabou por dar ares ainda mais dramáticos a essas questões e algumas pessoas rapidamente se apresaram a tratar o assunto como resultado de um mero "fanatismo religioso". Eis o teor da carta.

Primeiramente, deverão saber que os impuros não poderão me tocar sem luvas, somente os castos ou os que perderam suas castidades após o casamento e não se envolveram em adultério poderão me tocar sem usar luvas, ou seja, nenhum fornicador ou adúltero poderá ter um contato direto comigo, nem nada que seja impuro poderá tocar em meu sangue, nenhum impuro pode ter contato direto com um virgem sem sua permissão, os que cuidarem de meu sepultamento deverão retirar toda a minha vestimenta, me banhar, me secar e me envolver totalmente despido em um lençol branco que está neste prédio, em uma bolsa que deixei na primeira sala do primeiro andar, após me envolverem neste lençol poderão me colocar em meu caixão. Se possível, quero ser sepultado ao lado da sepultura onde minha mãe dorme. Minha mãe se chama Dicéa Menezes de Oliveira e está sepultada no cemitério Murundu. Preciso de visita de um fiel seguidor de Deus em minha sepultura pelo menos uma vez, preciso que ele ore diante de minha sepultura pedindo o perdão de Deus pelo o que eu fiz rogando para que na sua vinda Jesus me desperte do sono da morte para a vida eterna.
Eu deixei uma casa em Sepetiba da qual nenhum familiar precisa, existem instituições pobres, financiadas por pessoas generosas que cuidam de animais abandonados, eu quero que esse espaço onde eu passei meus últimos meses seja doado a uma dessas instituições, pois os animais são seres muito desprezados e precisam muito mais de proteção e carinho do que os seres humanos que possuem a vantagem de poder se comunicar, trabalhar para se alimentarem, por isso, os que se apropriarem de minha casa, eu peço por favor que tenham bom senso e cumpram o meu pedido, por cumprindo o meu pedido, automaticamente estarão cumprindo a vontade dos pais que desejavam passar esse imóvel para meu nome e todos sabem disso, senão cumprirem meu pedido, automaticamente estarão desrespeitando a vontade dos pais, o que prova que vocês não tem nenhuma consideração pelos nossos pais que já dormem, eu acredito que todos vocês tenham alguma consideração pelos nossos pais, provem isso fazendo o que eu pedi.

O primeiro parágrafo da carta é bastante confuso e não revela diretamente as crenças de Wellington Menezes. A linguagem aparentemente evangélica devido as expressões que utiliza, acaba encerrando com uma terminologia não evangélica, quando ele solicita que uma pessoa ore diante do seu túmulo, suplicando o perdão de Deus pelo que ele fez e a sua ressurreição para a vida eterna na segunda vinda de Jesus. Esse pedido incomum não é encontrado nos credos doutrinários das mais conhecidas igrejas evangélicas, para as quais a salvação é algo individual, sem qualquer possibilidade de uma intermediação humana após o falecimento da pessoa. No catolicismo romano há uma doutrina que respaldaria esse desejo de Wellington, que é o purgatório, mas o restante do texto também não deixa claro que Wellington fosse simpatizante do catolicismo.
Apesar dessa indefinição religiosa não foram poucos os internautas que postaram comentários contra a religião, especialmente o cristianismo, acusando-a de ser o símbolo do atraso, da ignorância, da tragédia e culpada por quase todos os males do mundo. Grande parte desses críticos esqueceram que o ateísmo também promoveu, massacres, grandes tragédias, destruiu famílias e ceifou a vida de inúmeros inocentes. Com o desenrolar dos acontecimentos e as investigações feitas pela polícia, as entrevistas concedidas por parentes, vizinhos, conhecidos, ex-colegas de escola e especialistas em psicologia, psiquiatria e criminalística, começou a se formar uma explicação para o comportamento de Wellington: ele havia sido vítima de bullying quando estudante e o seu jeito introvertido, na verdade era uma reação provocada pela baixa estima que ele possuía de si mesmo.
Entretanto, em meio as muitas entrevistas concedidas, algumas pessoas afirmaram que Wellington Menezes possuía um certo interesse pelo atentados às Torres Gêmeas em 2001. Chegara a afirmar a um de seus primos que desejaria jogar um avião no Cristo Redentor e passou um tempo deixando a barba crescer, o que levou os seus vizinhos a chamarem-no de "Bin Laden". A análise de sua carta-testamento apresenta inúmeras semelhanças com a carta-testamento deixada pelo terrorista Mohammed Ata, um dos sequestradores que atirou um avião contra as Torres Gêmeas em 2001.
Tudo isso ficou muito mais enigmático depois que a revista Veja em sua edição de 09/09/2011 publicou trechos de uma carta que foi encontrada na mochila de Wellington, onde ele afirma que lia o Alcorão quatro horas por dia e meditava sobre os atentados de 11/09. A revista também divulgou algumas informações sobre outros documentos encontrados na mochila. Em uma ficha de renovação de matrícula de 2004, no Colégio Estadual Madre Teresa de Calcutá, ele assinalava que sua religião era "testemunha de Jeová". Já em um mesmo documento da escola de 2006, ele assinalou a resposta para "muçulmano". A polícia agora investiga se o "assassino de Realengo" teria alguma conexão com grupos terroristas. 
Afinal de contas o que levou um jovem de 23 anos a praticar uma barbaridade semelhante a provocada por outros serial killers em escolas do mundo inteiro, principalmente nos EUA? Seria Wellington Menezes vítima de bullying ou suas convicções não passavam de mero fanatismo religioso? Esse mistério só será solucionado com o aprofundamento da investigações, principalmente a partir do computador destruído que foi encontrado em sua casa. Uma perícia visando a recuperação dos dados poderá revelar que sites ele visitava ou que tipos de documentos ele possuía. Wellington afirma em sua carta-testamento que era "virgem", mas durante a comoção pela tragédia uma fonte ouvida pela imprensa chegou a afirmar que ele estaria com AIDS! Como se vê são muitas perguntas e poucas respostas.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Os fundamentos doutrinários da igreja e o ensino bíblico ministrado pelo professor da Escola Bíblica Dominical

O estudo que se segue foi uma preleção feita por mim em 2010, em uma formação ministrada a professores do Departamento Infanto-Juvenil de minha igreja (Assembleia de Deus), aqui em São Lourenço da Mata, PE. Ele tem por tema central os fundamentos doutrinários que todo professor de uma Escola Bíblica Dominical precisa conhecer e as razões para que ele desenvolva uma vida espiritual impactante e o hábito de pesquisar e refletir sobre as ciências da Bíblia.

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Antes de começarmos a discussão de um tema tão importante para a vida da igreja, reflita alguns minutos sobre a história que se segue.

Prestes a enfrentar as maratonas do ENEM e do vestibular, bem como os exames finais para a aprovação do 3º ano do Ensino Médio, o jovem evangélico Pedro Paulo[1], 17 anos, encontra-se com seu professor de História Aureliano Pontes[2], um conhecido humanista, pervertido e materialista, entre os demais estudantes do colégio. Ao encontrar o jovem que regularmente freqüentava a EBD de sua congregação, o professor faz-lhe o seguinte questionamento: Se a Bíblia não traz em suas páginas a palavra “ficar” no sentido de namoro passageiro entre duas pessoas, por que você recusa os convites das garotas da escola, fazendo-se passar por um santarrão, arrogante e alienado? Perturbado com o conteúdo daquelas palavras e de certa forma embaraçado com a situação, Pedro Paulo, que conhecia o caráter leviano e duvidoso de seu professor, afirmou-lhe que não daria uma resposta naquele momento, mas consultaria uma pessoa de sua confiança sobre esse problema. O jovem, então, procurou o seu professor da EBD, sala dos juvenis, que lhe deu a seguinte resposta: Meu filho, simplesmente esqueça o que disse esse professor. Eu pessoalmente não sei explicar a questão que ele elencou, mas esse tipo de coisa é muito comum entre aqueles que estão caminhando para o inferno. Afinal, o “homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura” (I Co. 2.14). Apenas ore, para que ele possa se converter.

Apesar de fictícia, a história acima apresenta diversos problemas teológicos, espirituais, éticos e sociais. A questão levantada pelo professor envolveu uma situação-problema que um cristão maduro e experiente saberia facilmente responder; ao mesmo tempo revela como muitos jovens evangélicos, no dia-a-dia, não estão preparados para responder a altura os seus interlocutores em matéria de fé, credo e religiosidade. Confiando que seu professor da EBD teria as respostas para o seu dilema, o jovem se deparou com uma solução evasiva e desinteressante revelando como aquele professor possuía um conhecimento bíblico perigosamente superficial.
A Bíblia Sagrada como a inerrante, imutável e plena Palavra de Deus, apresenta um conjunto de doutrinas relacionadas à criação, o homem, a queda, o pecado, a morte, a salvação, a Trindade e as últimas coisas. Conhecê-las é algo necessário a todos os salvos, mas aqueles que ensinam a Palavra de Deus, além do conhecimento necessário à edificação comum, espera-se um maior aprofundamento, domínio e equilibro sobre o Livro de Deus.
As doutrinas bíblicas e suas relações com a ética e a filosofia: o ensino bíblico relaciona-se com a ética na medida em que estabelece princípios, desenvolve uma reflexão sobre eles e solicita ao homem que livremente os obedeça demonstrando sua gratidão com um Deus que é em sua essência a santidade perfeita. No que concerne ao mundo da argumentação filosófica, a própria fé cristã é também uma filosofia no sentido de possuir uma linha de argumentos para provar e defender aquilo que acredita. Mas, diferente da filosofia contemporânea que nega a existência de Deus como causa primeira, a filosofia cristã se apóia na Bíblia, reconhece a existência de um Criador e afirma ainda que ele se revelou, seja na Bíblia ou na Pessoa de seu amado filho. Isso não quer dizer que o cristão não possa estudar o raciocínio filosófico ou o conhecimento secular. Este é necessário também para explicar certas situações do comportamento humano ou da natureza de forma geral, e ajuda o cristão a entender a mente de quem professa sua fé em um sistema de valores baseados em alguma escola filosófica.
O ensino bíblico na igreja contemporânea: antes do advento do secularismo, do relativismo e da teologia liberal, a Teologia era considerada a rainha das ciências. O que se vê atualmente é uma preocupação demasiada com o discurso de um evangelho simples, descomprometido, sem engajamento nas grandes questões de nossa época e fundamentado excessivamente nas bênçãos materiais. O ensino bíblico contemporâneo em muitas denominações cristãs foi atingido pelo pragmatismo e pelo imediatismo, associados à acomodação dos membros dessas denominações de forma geral. Teólogos, doutores, pastores e líderes descomprometidos com a Bíblia, temem enfatizar verdades dolorosas ou trazer à luz princípios que venham a questionar o comportamento das pessoas em suas igrejas. Não é difícil de imaginar o que espiritualmente pode ocorrer com as ovelhas pastoreadas por pessoas que não acreditam na permanência de valores éticos e ensinos bíblicos adequados ao enfrentamento do discurso antibíblico do mundo contemporâneo.
A necessidade da doutrina bíblica: o ensino regular na igreja promove a organização dos conceitos bíblicos de forma mais sistematizada revelando para os salvos e não-salvos que o Cristianismo não é um amontoado de doutrinas sem sentido, como a criação e a divindade de Jesus, o pecado e as últimas coisas, o Céu e o Inferno, operado sem harmonia ou relações entre si. Além do mais, o mundo secular e não-cristão é dominado em suas instituições de ensino, imprensa, esportes e cultura por uma postura radicalmente contrária aos princípios cristãos. Todos os servos de Deus de forma geral são atingidos e a resposta de cada um deles a essa tendência vai estar relacionada ao ensino bíblico saudável que possuírem. Versículos isolados e descontextualizados não convencerão os nossos adversários, muito menos nos preparará para enfrentá-los. Também é necessário questionar aqueles que temerosamente afirmam ser o estudo das doutrinas bíblicas um entorpecedor da manifestação da fé ou dos dons espirituais. Isso só irá ocorrer se o ensino bíblico não for aplicado ao cotidiano, transformando-se em um conjunto de informações meramente intelectuais. O Senhor Jesus e os apóstolos ensinaram doutrinas (Mc. 4.2; II Tm. 3.10), a igreja primitiva vivia na “doutrina dos apóstolos” (At. 2.42) e os apóstolos estimularam o ensino da doutrina (II Tm. 4.2; Tt. 1.9). O próprio apóstolo Paulo previu um tempo, hoje vivido pelos cristãos, onde as pessoas “não suportariam a sã doutrina” (II Tm. 4.3) e exigiu que o bom obreiro manejasse muito bem a palavra de Deus (II Tm. 2.15). Logo, é possível perceber que há uma nítida relação entre o ensino das doutrinas bíblicas e o serviço eficaz do povo de Deus.
Conceituando os termos citados no Novo Testamento: a mais importante palavra grega relacionada ao ensino que aparece no Novo Testamento bíblico é didakê, que significa instrução, ensino, doutrina (I Co. 14.6; II Tm. 4.2; Mt. 16.12; 7.28). Como derivações diretas também aparecem as palavras didaskalia (doutrina, instrução, aquilo que é ensinado - Rm. 12.7; 15.4; Cl. 2.22; II Tm. 3.10; Tt. 1.9); didaktikós (qualificado para ensinar – I Tm. 3.2; II Tm. 2.24); didaktós (instruído, ensinado – Jo. 6.45; I Co. 2.13); didaskalos (mestre, professor – Rm. 2.20; At. 13.1; Lc. 9.38; Ef. 4.11; I Co. 12.28).
O conjunto dos ensinos bíblicos visa o crescimento, aperfeiçoamento, edificação e maturidade do povo de Deus (II Co. 11.2; Tt. 2.14). Como consequência direta do pecado e do plano do adversário de destruir a igreja, nem toda a doutrina têm sua fonte no Senhor. A doutrina pode ser humana (Mt. 15.9), demoníaca (I Tm. 4.1) e divina (Tt. 2.10; II Pe. 1.20-21; Jo. 10.35). A doutrina verdadeiramente bíblica regula a conduta humana (I Tm. 4.16; I Jo. 2.5), proporciona o entendimento sobre a salvação em Cristo (Rm. 10.17), santifica o salvo (Jo. 17.17; Ef. 5.26), constroi uma identidade no cristão na sociedade ímpia (II Jo. 1.9-10), habilita o crente para a obra (I Tm. 3.16-17) e promove uma conduta santa (I Co. 15.33; Hb. 5.14; 13.5). O estudo sistemático e organizado da doutrina cristã como revelação de Deus aos homens chama-se Teologia. Ela é a cabeça de um conjunto de ensinos que envolvem tudo relacionado à criação, o homem, o pecado, a salvação, os seres angelicais, a igreja e as últimas coisas. O conhecimento teológico tem nas Escrituras sua principal base de argumentação e procura promovê-las sem negar seu conteúdo doutrinário. Qualquer argumento teológico que promova o esfriamento da fé ou uma vida cristã descompromissada deve ser descartado como espúrio (Rm. 16.17; II Jo. 1.9-11; Hb. 13.9).
Acompanhando o raciocínio que foi anteriormente discutido no início desse texto, existem diversas escolas ou correntes teológicas, mas em um sentido geral elas podem ser agrupadas em três grandes grupos:
·            A teologia ortodoxa: é aquela que tem nas Escrituras sua única regra de fé e prática. Defende a inspiração verbal e plenária das Escrituras (II Tm. 3.16; Rm. 15.4) e sua natureza inerrante, divina e infalível (II Pe. 1.20-21; Mt. 5.18; Lc. 24.44).
·            A teologia liberal: para muitos o criador dessa corrente teológica foi o alemão Friedrich Schleimacher, que entre outros princípios relativizou a verdade pregada pelo cristianismo e descartava qualquer ensino bíblico que não pudesse ser explicada pela razão, incluindo as doutrinas vitais da fé cristã. Para os expoentes dessa escola, a Bíblia apenas contém a Palavra de Deus, logo, alguns de seus trechos são inspirados e outros não[3]. Na atualidade, o maior proponente desse discurso é o Jesus Seminar (Seminário Jesus) criado em 1985 nos EUA, por Robert Funk e John Dominic Crossan. O Seminário Jesus já chegou ao absurdo de anunciar que o Evangelho apócrifo de Tomé possui mais conteúdo histórico que o Evangelho de João, negando também uma série de acontecimentos narrados no Novo Testamento como a concepção virginal de Cristo e sua ressurreição.
·            A teologia neo-ortodoxa: surgiu como reação à teologia liberal, mas conservou muitos de seus argumentos, como a negação da concepção virginal de Cristo. Um ensino marcante dessa teologia é a subjetividade, que condiciona inspiração das Escrituras (A Bíblia só se torna inspirada quando se tem contato com o seu texto) e a relação com Deus (o Senhor não é conhecido através das doutrinas básicas da fé, mas através de uma experiência revelada ao indivíduo).
Seria possível ainda mencionar aqui outras escolas teológicas como a “teologia da libertação” e o “teísmo aberto”. Historicamente, preocupada em combater as heresias, a igreja cristã formulou credos simples, específicos e resumidos das principais doutrinas bíblicas, como uma forma de facilitar sua assimilação pelos novos convertidos. Há muitos credos na História da igreja. Os mais conhecidos são o Credo Apostólico (formulado nos princípios da fé cristã pelos pais da igreja primitiva, como uma provável resposta ao gnosticismo), o Credo Niceno (325), o Credo de Atanásio (381), o Credo de Caldedónia (451), a Confissão de Fé de Augsburgo (1530), a Confissão de Westminster (1648), a Confissão de Fé Belga (1561), a Confissão de Fé da Guanabara (1561) e muitos outros. 
Vejamos agora uma análise específica do credo doutrinário defendido por nossa igreja, algumas referências bíblicas e diversas heresias antigas ou contemporâneas que ele procura ao mesmo tempo combater.

O CREDO DOUTRINÁRIO DAS ASSEMBLEIAS DE DEUS NO BRASIL
Cremos...
Heresias combatidas...
1. Em um só Deus, eternamente subsistente em três Pessoas: O Pai, o Filho e o Espírito Santo (Dt. 6.4; Mt. 28.19; Mc. 12.29).
Sabelianismo: o herege Sabélio defendia que na sua concepção o Pai, o Filho e o Espírito Santo são nomes de três estágios ou fase diferentes. Ele era Pai na criação e na promulgação da Lei; Filho na encarnação, Espírito Santo na regeneração.
2. Na inspiração verbal da Bíblia Sagrada, única regra infalível de fé normativa para a vida e o caráter cristão (II Tm. 3.14-17; II Pe. 1.21).
Teologia liberal: a Bíblia não é a Palavra de Deus, apenas contém essa Palavra.
Teologia neo-ortodoxa: a Bíblia não é a Palavra de Deus, mas torna-se essa Palavra, na experiência subjetiva com os indivíduos, uma experiência de revelação.
3. Na concepção virginal de Jesus, em sua morte vicária e expiatória, em sua ressurreição corporal dentre os mortos e sua ascensão vitoriosa aos céus (Is. 7.14; Rm. 8.34; At. 1.9).
Ebionismo: negava a divindade de Cristo (início do séc. II).
Arianismo: Negava a divindade de Jesus e sua existência eterna (séc. IV).
Gnósticos: Jesus era divino, mas não humano (séc. I-III).
Diversas heresias contemporâneas, desde seitas pseudocristãs a filosofias antibíblicas.
4. Na pecaminosidade do homem que o destituiu da glória de Deus, e que somente o arrependimento e a fé na obra expiatória e redentora de Jesus Cristo é que pode restaurá-lo a Deus (Rm. 3.23; At. 3.19).
Concepções humanistas contemporâneas como o evolucionismo, o materialismo e o existencialismo que atestam que o homem é essencialmente bom, que não existe o pecado, que os homens nascem bons, mas são corrompidos pela sociedade e que o próprio homem é o responsável pela resolução de seus problemas sem a necessidade de consultar alguma divindade.
5. Na necessidade absoluta do novo nascimento pela fé em Cristo e pelo poder atuante do Espírito Santo e da Palavra de Deus, para tornar o homem digno do Reino dos Céus (Jo. 3.3-8).
Judaizantes: afirmam que só a fé não é suficiente para a salvação, precisando o indivíduo se submeter às leis e preceitos do Antigo Testamento. Diversas seitas, escolas filosóficas e movimentos religiosos e esotéricos que negam a necessidade de conversão ou condicionam a salvação pelas boas obras ou a filiação à instituição.
6. No perdão dos pecados, na salvação presente e perfeita e na eterna justificação da alma recebidos gratuitamente de Deus pela fé no sacrifício efetuado por Jesus Cristo em nosso favor (At. 10.43; Rm. 10.13; 3.24-26; Hb. 7.25; 5.9).
Hedonismo: teoria que sustenta que o melhor ou mais proveitoso que existe na vida é a conquista do prazer e a fuga da dor, conceituando o pecado como “belo e natural, e o que é belo é correto”.
Movimentos contemporâneos, seitas e demais escolas filosóficas que negando a eficácia e a extensão do sacrifício de Cristo, afirmam que o homem evolui à medida que entra em contato com o seu “eu” interior.
7. No batismo bíblico efetuado por imersão do corpo inteiro uma só vez em águas, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, conforme determinou o Senhor Jesus (Mt. 28.19; Rm. 6.1-6; Cl. 2.12).
Aspersão ou derramamento: batismo administrado pelo derramamento de água sobre a cabeça do candidato, sem a necessidade de imersão nas águas.
Movimentos e seitas contemporâneas que negam a fórmula batismal proposta em Mt. 28.19, confundido esse texto com a interpretação incorreta de outras passagens bíblicas como
8. Na necessidade e na possibilidade que temos de viver vida santa mediante a obra expiatória e redentora de Jesus no Calvário, através do poder regenerador, inspirador e santificador do Espírito Santo, que nos capacita a viver como fieis testemunhas do poder de Cristo (Hb. 9.14; I Pe. 1.15).
Antinomistas: defendem que a vida cristã não precisa se submeter a regras, pois agora estão livres para fazerem o que querem.
Teorias que negam a divindade, bem como a humanidade de Cristo.
Movimentos contemporâneos, seitas e demais escolas filosóficas que negam a necessidade do homem se preocupar com uma vida de santidade como condição inerente para agradar a um Deus que é inerentemente santo. Aqui podem ser incluídos todos os movimentos, grupos ou pessoas que defendem princípios éticos ou morais antibíblicos.
9. No batismo no Espírito Santo que nos é dado por Deus mediante a intercessão de Cristo, com a evidência inicial de falar em outras línguas, conforme a sua vontade (At. 1.5; 2.4; 10.44-46; 19.1-7; I Co. 14.1).
Teoria cessassionista: procura fazer uma associação entre batismo no Espírito Santo e recebimento do Espírito Santo por ocasião da conversão, o que biblicamente são duas coisas totalmente diferentes. Em outra situação afirmam que o batismo no Espírito Santo foi algo restrito apenas à era apostólica e que cessou após a formação do cânon. Outros defendem que as experiências pentecostais não passam de fanatismo ou emocionalismo.
10. Na atualidade dos dons espirituais distribuídos pelo Espírito Santo à igreja para sua edificação, conforme a sua soberana vontade (I Co. 12.1-12; At. 2.39).
Teoria cessassionista: a mesma teoria discorda da atualidade dos dons espirituais e a sua extensão por toda a era da igreja. Seus defensores acreditam que as manifestações de poder e maravilhas no Novo Testamento eram transitórias e restritas para a expansão do evangelho aquele período.
11. Na Segunda Vinda premilenal de Cristo, em duas fases distintas. Primeira – invisível ao mundo, para arrebatar a sua igreja fiel da terra, antes da Grande Tribulação; segunda – visível e corporal, com sua igreja glorificada, para reinar sobre o mundo durante mil anos (I Ts. 4.16-17; I Co. 15.51-54; Ap. 20.4; Zc. 14.5; Jd. 1.14).
Pós-milenismo: nesta visão, após uma crescente pregação do evangelho e da consequente aquisição das bênçãos e melhora moral, social e espiritual da raça humana decorrentes desta pregação, seria estabelecido o milênio, a partir do exato momento que a cristandade fosse maioria na Terra. Deste ponto após mil anos viria Jesus.
Amilenismo: segundo esta visão, não haverá nenhum milênio. Se houver um reino, ele está acontecendo agora, através do reinado de Cristo sobre a sua igreja. As condições de vida nesta era irão se deteriorar até a volta de Jesus. Ao retorno do Senhor se seguirá a ressurreição, o julgamento e a eternidade.
12. Que todos os cristãos comparecerão ante o Tribunal de Cristo, para receber a recompensa dos seus feitos em favor da causa de Cristo na Terra (II Co. 5.10; Rm. 14.12).
Teorias que negam a imortalidade da alma e uma futura prestação de contas por todos os atos que praticamos nessa vida.
13. No juízo vindouro que recompensará os fiéis e condenará os infiéis (Ap. 20.11-15).
Aniquilacionismo: teoria que ensina que no final de todas as coisas, o homem ímpio, Satanás e seus anjos serão aniquilados, ou seja, extintos, reduzidos a nada.
14. E na vida eterna de gozo e felicidade para os fiéis e da tristeza e tormento para os infiéis (Mt. 25.46).
Universalismo: ideia muito corrente na cultura popular, é uma teoria que ensina que no final de todas as coisas, o homem ímpio, Satanás e seus anjos serão “restaurados”, “perdoados”, ou seja “salvos”.

O professor, a ética cristã e o ensino bíblico: como instrumento de Deus para a promoção do ensino bíblico, o educador cristão precisa ser o exemplo para os alunos (Fp. 3.17; I Tm. 4.12) e preservar a doutrina bíblica sem alterações ou acréscimos perigosos (I Tm. 4.16; II Tm. 2.2; 3.14). Além do mais, o professor deve manter o respeito pelo ensino bíblico (Tt. 2.7), ser obediente (Rm. 6.17), possuir equilíbrio e firmeza (Ef. 4.14; Hb. 6.1), comunicar a sã doutrina (Tt. 2.1), promover equilibradamente o combate às heresias e ensinos fraudulentos (Tt. 1.10-11; II Tm. 2.24-26; Rm. 16.17) e nunca aceitar a introdução de doutrinas sem apurá-las com o rigor da Palavra de Deus (I Tm. 1.3-4; 6.3-5; II Ts. 3.6). 
Conclusão: o educador cristão é um cooperador de Deus e agente ativo no plano de conversão, crescimento e maturidade dos novos discípulos (Mt. 28.19-20; Ef. 4.13-14). A falta de zelo pelo discipulado e ensino bíblico produz muitos prejuízos à igreja, como o aumento do número de desviados, crentes enfraquecidos ou sem consciência exata daquilo que praticam ou devem evitar, pessoas facilmente manipuladas pelas heresias, igrejas sem paixão pelas almas, o avanço do secularismo e do materialismo entre os fiéis, apostasia espiritual, interpretações estanhas e equivocadas com relação à volta de Jesus ou outras doutrinas bíblicas. Portanto, estimado professor, desenvolva uma vida espiritual ativa e equilibrada, aperfeiçoe seus conhecimentos e seja consciente de que há uma grande recompensa para aqueles que ensinam e servem os santos (Dn. 12.3; Hb. 6.10). Só a eternidade irá revelar o resultado do trabalho incansável e abnegado de milhares de educadores cristãos de todas as épocas.

Referências:

ANDRADE, Claudionor Corrêa de. A doutrina das últimas coisas: um ensino necessário e confortador. In: __________. Lições bíblicas. Vem o fim, o fim vem: a doutrina das últimas coisas.
ANDRADE, Claudionor Corrêa de. Judas, em defesa da genuína fé cristã. In: __________. Lições bíblicas: Judas: batalhando pela genuína fé cristã. Rio de Janeiro: CPAD, 2002. p. 10-17.
ANDRADE, Claudionor Corrêa de. O aparecimento dos falsos mestres. In: __________. Lições bíblicas: Judas: batalhando pela genuína fé cristã. Rio de Janeiro: CPAD, 2002. p. 10-17.
ANDRADE, Claudionor Corrêa de. Quando o deus deste século invade a igreja. In: __________. Lições bíblicas. Não terás outros deuses diante de mim: quando a idolatria ameaça a igreja de Cristo. Rio de Janeiro: CPAD, 2000. p. 82-88.
CABRAL, Elienai. O poder das Escrituras. In: Lições bíblicas. Doutrinas bíblicas: edificando sobre o fundamento de Cristo e dos apóstolos. Rio de Janeiro: CPAD, 2001. p. 03-09.
CABRAL, Elienai. Preservando a doutrina: a missão conservadora da igreja. In: __________. Lições bíblicas. A igreja e a sua missão. Rio de Janeiro: CPAD, 2007. p. 81-88.
COUTO, Geremias do. A igreja e o secularismo. In: __________. Lições bíblicas. Igreja: projeto de Deus. Rio de Janeiro: CPAD, 1998. p. 75-82.
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GILBERTO, Antonio. O avivamento e o secularismo na igreja. In: __________. Lições bíblicas. Aviva ó Senhor, a tua obra! Estudo sobre avivamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2000. p. 43-49.
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[1] O nome é fictício. Qualquer semelhança com pessoas na vida real é mera coincidência.
[2] O nome é fictício. Qualquer semelhança com pessoas na vida real é mera coincidência.
[3] Friedrich Schleimacher também afirmou que “não há religiões falsas e verdadeiras. Todas elas, com maior ou menor grau de eficiência, têm por objetivo ligar o homem finito com o Deus infinito, sendo o cristianismo a melhor delas”. Ele não foi o único pensador dessa corrente teológica e esse grupo engloba ainda nomes como Paul Tillich, que negou a plena existência de Deus ao dizer que “Deus não existe... Deus não é um ser, mas um poder de ser. É o fundamento de todo o ser, porém, não é objetivo nem sobrenatural...”. Podem ser citados ainda Rudolf Bultman (para quem era possível crer em Jesus, mas não em sua concepção virginal e nos milagres do Novo Testamento, defendendo a ideia de que a Bíblia está cheia de mitos) e Pierre Teilhard de Chardin (simpatizante do evolucionismo teísta e defensor da ideia de que a Bíblia teria de se adaptar às descobertas científicas, onde tudo aquilo que não tivesse apoio científico deveria ser explicado à luz da contextualização histórica dos escritores bíblicos).

domingo, 3 de abril de 2011

Terry Jones, o mundo não-cristão e a queima do Alcorão - Parte II

Por Luciano Borges de Santana

As críticas contra Jones prosseguiram ao longo do dia 09/09/10. O ministro do Interior da Índia, país que é palco de um lamentável conflito religioso entre muçulmanos e hindus condenou a queima do Alcorão. Pressionado, Jones afirmou até reconsiderar seu plano, caso a Casa Branca, o Pentágono ou o Departamento de Estado entrasse em contato com ele. Instituições e personalidades pelo mundo manifestam suas preocupações, como Nasim Rehmatullah, vice-presidente da comunidade Ahmadi (grupo muçulmano), que ironicamente chegou a afirmar que "aqui, nos Estados Unidos, não queimamos livros". O senador John McCain, candidato derrotado por Obama nas eleições presidenciais também solicitou para que Jones desistisse de seus atos. A Interpol por sua vez alertou seus países membros sobre possíveis atentados que poderiam ser praticados por grupos radicais muçulmanos. Preocupados com a repercussão negativa das atitudes de Terry Jones, a empresa que hospedava o site de sua igreja, se sentiu na obrigação de suspendê-lo temporariamente, devido ao conteúdo que poderia estimular a violência. Muçulmanos ao redor do mundo avaliam de forma negativa a campanha de Jones e questionam como um país que apregoa os ideais de liberdade, iluminismo e tolerância tenha chegado a tudo isso. E, pressionado pelo desenrolar dos acontecimentos, o governo dos EUA deixa escapar em entrevistas coletivas, que havia uma forte possibilidade da Casa Branca convocar pessoalmente o pastor a desistir de seus planos. No final do dia 09/09/10, Jones finalmente afirmou que tinha desistido de queimar os exemplares do Alcorão, supostamente após ter entrado em contato com os líderes muçulmanos que estavam por trás da construção de uma mesquita e um centro cultural islâmico na área onde ficava o antigo World Trade Center. Um porta-voz do imã Feisal Abul Rauf, rejeitou que havia sido feito qualquer acordo para mudar o local dessas construções. Ainda no final desse dia, o secretário americano de Defesa, Robert Gates entrou em contato por telefone com Terry Jones, reforçando o perigo que as forças armadas dos EUA estariam passando, principalmente no Afeganistão e no Iraque, caso a proposta fosse levada adiante. E para a surpresa geral, Terry Jones, que havia entrado em contato com o imã de Orlando, Mohammed Musri, acaba sabendo que a suposta mudança de local do centro cultural islâmico e da mesquita não seria efetivada. Desiludido, Jones afirma que "agora há uma suspensão provisória do evento planejado, porque neste momento estamos verdadeiramente decepcionados e chocados. Se isto é certo, ele (Musri) mentiu muito claramente... Somos obrigados a reconsiderar nossa decisão, porque ela era baseada em sua palavra. Entendo que agora estão recuando e dizendo que não é nada disto." O mundo começa a se preocupar novamente.
Devido ao impasse do dia anterior, o dia 10/09/10 começa com muita apreensão pelo mundo. Diversas autoridades como o presidente do Afeganistão, Hamid Karzai, o presidente da Indonésia, Susilo Bambang Yodhoyomo e o primeiro-ministro israelense, Benjamim Netanyau, manifestam suas preocupações, enquanto diversos manifestantes protestam no Afeganistão. Definitivamente Terry Jones desiste de queimar os exemplares do Alcorão, mas o balanço do dia é extremamente negativo com a morte de um manifestante e outros feridos no Afeganistão. Na esteira da crise, o presidente iraniano Mahmud Ahmadinejad afirmou que tudo aquilo não passava de um complô "sionista". Já o imã de Meca, Saleh Bin Humain, considerou que a queima de exemplares do Alcorão não passava de "terrorismo". O arcebispo de Nova York, Timothy Dolan chegou a declarar que o dia 11 de setembro "não é um dia contra os muçulmanos, nem um dia de ódio, e sim de amor, fé, esperança e oração." Terry Jones ainda nutrindo ressentimentos, questionou o imã de Nova York sobre a mudança do local das construções próximas ao antigo World Trace Center. Ele intimou o imã a se declarar em 2 horas sobre o assunto, atraindo mais ainda publicidade para sua igreja e a pacata cidade de Gainesville. Após o fim do ultimato, o imã de Nova York não respondeu as exigências de Jones e sua filha, Emma Jones, que vivia afastada do pai na Alemanha, simplesmente disse que "como filha, vejo uma boa pessoa nele, mas acho que ele precisa de ajuda. Acho que ele enlouqueceu." No final do dia 10/09, quando fontes ligadas a Jones confirmam a desistência dos planos sobre a queima do Alcorão, o pastor viaja para Nova York para se encontrar e discutir com o imã de Nova York, o polêmico projeto das construções muçulmanas. Para diversos analistas, Terry Jones que era um desconhecido alcançou uma maior popularidade devido a reação da Casa Branca, impulsionada pela internet e as mídias virtuais.
Apesar de ter novamente confirmado no dia 11/09/10, em entrevista a rede NBC, que "definitivamente não queimaremos o Alcorão, não... Nem hoje e nem nunca", diversos protestos são realizados, principalmente no Afeganistão. Devido ao pouco interesse da mídia pelo caso após o 11/09 o nome de Terry Jones apareceu poucas vezes na imprensa, quase sempre associado a atos de fanatismo, vandalismo ou intolerância religiosa. Em dezembro de 2010, Jones volta a ser noticiado pela imprensa, após receber um convite de uma organização inglesa, para discursar sobre os aspectos negativos do Islã e o perigo que representava uma islamização da Europa. Em janeiro de 2011, Jones "reaparece" na imprensa, novamente associado à intolerância religiosa. Sua proposta agora seria a criação do Dia do julgamento internacional do Corão, a ser celebrado em 20 de março. Em um vídeo postado no Youtube, Jones afirma que "o Corão é o acusado. Nós estamos acusando o Corão de assassinato, violação e de ser responsável por atividades terroristas ao redor do mundo. Estamos acusando o Corão desses atos violentos". Incentivou os apologistas do Alcorão a defender o livro: "Desafiamos que o façam. Não falemos, queremos ver ação e que nos demonstrem. Venham nos demonstrar nesse dia, 20 de março, o dia que o Corão será julgado. Nós teremos um juiz, vamos chamar testemunhas e vocês podem chamar testemunhas. Desafiamos vocês. Da última vez vocês, os islamitas, demonstraram ter uma boca muito grande. Falaram muito e seguiram falando para dizer o quão pacífico era o Corão. Bom, venham e demonstrem". Afirmou ainda que se o Alcorão for declarado culpado poderá ter três castigos: "ser queimado, se essa for a vontade das pessoas, afogado, picado ou fuzilado". Na ocasião, o discurso extremista de Jones não teve a repercussão do ano anterior, mas quando decidiu viajar para a Inglaterra, teve a entrada negada no país pelo Ministério do Interior, devido as pressões de entidades e cidadãos. O governo britânico alegou que "se opõe ao radicalismo de todas as formas".
O tempo passou e Jones foi novamente esquecido. Mas, em 21 de março de 2011, a imprensa mundial ainda impactada pelo terremoto que abalou o Japão, voltou a colocar Terry Jones sobre os holofotes. No dia anterior, a igreja de Jones na cidade de Gainesville, na Flórida, "testemunhou" o Dia do julgamento internacional do Corão, onde o livro de acordo com o julgamento de Jones foi declarado culpado por vários crimes, entre eles o de assassinato. O livro foi molhado com querosene e em um recipiente queimou por 10 minutos. Jones satisfeito, disse que o evento é uma "experiência daquelas que temos uma vez na vida". A reação no mundo demorou a aparecer devido ao sofrimento do povo japonês pelo terremoto que atingiu o país. Protestos seguiram-se alguns dias depois, a imagem dos EUA fora manchada pela intolerância religiosa e potenciais grupos terroristas muçulmanos ficaram revoltados com o atentado realizado contra seu livro sagrado.
Qual é o balanço que podemos fazer das atitudes promovidas por Terry Jones? Será que ele agiu como um verdadeiro pastor, um líder da causa do Mestre? Como você avalia o testemunho de uma pessoa que tinha abertamente afirmado que em ocasião alguma queimaria o Alcorão e meses depois pratica o que antes tinha evitado. Talvez você me censure por ter tão detalhadamente esmiuçado as propostas de Jones entre 2010 e 2011. Talvez me questione por ter ignorado que a mídia, de forma geral, não simpatiza com os princípios cristãos e para ela, inflar o comportamento de Jones renderia uma enorme audiência; ou até mesmo agora esteja me ridicularizando por desconhecer que Bíblias cristãs também foram queimadas ao longo da história da igreja, e países árabes ou governos de ditaduras comunistas proíbem a livre impressão e circulação da Palavra de Deus em seus territórios. Não, caro leitor, eu não ignoro nenhuma dessas coisas. Mas, não estou nesse momento tratando disso. Eu reconheço plenamente a oposição que a imprensa, os governos árabes ou qualquer ditadura comunista faça não apenas contra a Bíblia, mas também contra aqueles que assumiram o compromisso de honrar essa Palavra. Essa oposição inclusive, foi reafirmada por Jesus (Jo. 15.18-19) e não causa espanto algum saber que ela existe. Mas, se você voltar à primeira postagem, verá que no início do artigo discuti o perigo que os escândalos podem trazer à igreja e a expansão do evangelho de Cristo. É isso o que procuro avaliar. Diante de toda a comoção mundial provocada pelo extremismo religioso de Terry Jones, pessoalmente preferiria que ele nunca tivesse feito isso, pois suas atitudes só prejudicaram a obra de Deus.