segunda-feira, 27 de junho de 2011

A retirada das 'torres gêmeas' da ponte-viaduto sobre o rio Capibaribe, em São Lourenço da Mata: decisão meramente técnica ou essencialmente política?

 
Por Luciano Borges de Santana

O contribuinte é o único cidadão que trabalha para o governo sem ter de prestar concurso.
Ronald Reagan

O governo é uma máquina cara demais pelos parcos serviços que presta.
Roberto Campos

O século XXI trouxe muitas expectativas para a população de São Lourenço da Mata, pois no início de 2001 o prefeito Jairo Pereira tomava posse para seu primeiro mandato. Com uma campanha pautada na ética, geração de empregos e sobretudo uma moralização da gestão pública, o então deputado estadual derrotou o prefeito Ettore Labanca que disputava a reeleição. As eleições de 2000 além de serem acirradas ficaram marcadas pela tradicional polarização entre os vermelhos e amarelos, com uma intensa "boca-de-urna" nas principais ruas e zonas eleitorais do município. Jairo Pereira que na época contava com o apoio do governador Jarbas Vasconcelos, foi favorecido pelas altas taxas de rejeição que o prefeito Ettore Labanca possuía em seu último ano de governo.
O início do mandato de Jairo Pereira coincidiu com o período em que cursava a minha especialização em Paisagem e Turismo no Nordeste do Brasil, pela FFPNM-UPE, em Nazaré da Mata. Conhecedor de forma razoável da história, geografia, cultura e do potencial turístico que havia no município, seria contraditório não produzir uma monografia de conclusão de curso, que não focasse São Lourenço da Mata como seu principal objeto de estudo. Entre 2002 e 2003 centralizei-me no levantamento de fontes bibliográficas, entrevistas, aplicação de questionários, visitas a instituições ou centros de pesquisas e redação textual da monografia. Uma das fontes bastante utilizadas foram periódicos editados pela prefeitura, artigos de jornais ou qualquer material promocional publicado por órgãos públicos. Entre as diversas fontes estão dois tabloides patrocinados pelo governo municipal que foram distribuídos entre 2002 e 2003. 
O primeiro tabloide chama-se "Jornal do Desenvolvimento" que além de exaltar as conquistas do primeiro ano da gestão de Jairo Pereira, procura associá-lo a figura emblemática de seu pai, Josué Pereira, que governou o município em outras ocasiões. Na página 02 desse tabloide era anunciado, entre outras realizações, que a reforma realizada pelo prefeito na tradicional ponte-viaduto sobre o rio Capibaribe era um cartão postal para o município. Esse mesmo discurso foi veiculado em um segundo tabloide distribuído no Jornal do Commercio em 29/03/2003, mas em grande parte formatado com dados fornecidos pela prefeitura. Na página 02 desse jornal, entre tantas realizações, mas uma vez aparecia a informação de que a reforma na ponte-viaduto o transformou no cartão postal de São Lourenço da Mata.

 Ponte-viaduto ao fundo. Jornal do Desenvolvimento, 2002.

Informe publicitário distribuído no Jornal do Commercio, 2003.

Durante o período da minha pesquisa apliquei uma série de questionários com grupos específicos de pessoas. Em uma das perguntas apresentei uma relação de monumentos (a Igreja de São Lourenço Mártir, Festa do Padroeiro, Barragem do Tapacurá, Viaduto sobre o rio Capibaribe e Engenhos) e solicitei as pessoas que dissessem qual desses monumentos possuía um potencial turístico. Curiosamente, das 100 pessoas entrevistadas apenas 11 consideraram que o viaduto (já reformado) possuía algum potencial turístico. Na mesma ocasião, entreguei um questionário ao diretor de turismo na época, cuja diretoria estava atrelada à Secretaria Municipal de Educação. Em uma das perguntas questionei o seguinte: Recentemente um periódico editado pela prefeitura afirmou que a reforma empregada no viaduto o transformou no cartão-postal do município. Você acredita que um turista de passagem por São Lourenço irá se importar em fotografar as "torres gêmeas"? Qual é a sua opinião sobre o assunto? O diretor respondeu o seguinte: Tenho depoimento de um industrial da cidade de Surubim, hoje, radicado na cidade de São Paulo, no ramo da metalurgia, que ficou impressionado ao passar por São Lourenço da Mata, depois de haver ficado mais de seis anos sem por aqui passar, e tendo que se deslocar para Surubim, passou por São Lourenço por volta das 18:30hs, quando deslumbrou o viaduto todo iluminado, impressionou-se com sua beleza. Confesso que pessoas de outras cidades fazem elogios a administração municipal. Ou seja, entre o discurso oficial e a opinião popular havia uma grande diferença. 
Passados 10 anos da conclusão das reformas sobre a ponte-viaduto, o Núcleo de Engenharia do Tribunal de Contas do Estado de Pernambuco, recomendou a prefeitura municipal que retirasse os pórticos de ferro sobre o viaduto porque corriam risco de desabamento. Entre os dias 25 e 26 de junho de 2011, as obras começaram e por volta das 15.00hs do dia 26, todas as estruturas de ferro, que um dia transformaram a ponte-viaduto em "torres gêmeas" (apelido dado pela população na ocasião), haviam deixado de existir. Apesar da retirada do antigo "cartão postal", algumas perguntas não querem calar e levarão anos ou talvez nunca venham a ser satisfatoriamente respondidas. A decisão para a retirada dos pórticos de ferro foi meramente técnica ou essencialmente política? Quem foram os grandes beneficiados por essa construção? Quanto se gastou para que ela fosse erguida? Para onde foram e o que vai ser feito com as sobras de ferro que foram retiradas? Como ficará a iluminação da ponte-viaduto? Como se vê ainda tem muita água do rio Capibaribe para passar por baixo daquela ponte. Logo abaixo seguem algumas fotos da retirada das estruturas de ferro.

 











A imprensa secular e o seu olhar sobre os evangélicos


Por Luciano  Borges de Santana

Fica difícil compreender porque quase sempre os evangélicos são ridicularizados pela mídia como pessoas reacionárias ou conservadoras, se a própria mídia secular reage de forma truculenta ou se mostra conservadora em suas convicções, quando as confronta com as opiniões ou o modo de viver da comunidade evangélica. Um exemplo claro dessa postura foi o artigo postado por Gilberto Dimenstein no Folha.com em 24/06/2011. Sob o título "São Paulo é mais gay ou evangélica", Dimenstein apresentou algumas pérolas profundamente questionáveis. Ao afirmar a discutível ideia de que "os gays não querem tirar o direito dos evangélicos" provocou uma infeliz conclusão ao dizer que "a parada evangélica [a Marcha para Jesus] não respeita os direitos dos gays". Mais adiante outra questionável afirmação: "A parada evangélica tem um ranço um tanto raivoso, já que, em meio à sua pregação, faz ataques a diversos segmentos da sociedade".
A afirmação de que os evangélicos são contra os "direitos dos gays" é uma falácia habilmente articulada por Dimenstein. Sabemos que qualquer cidadão protegido pela Carta Constitucional do país tem o direito de livremente defender suas convicções. Não encontro um evangélico nesse país proibindo os homossexuais ou seus simpatizantes de defenderem o que acreditam. Todavia, existe uma grande diferença quando se trata de defender o que acredito e impedir os demais cidadãos de criticarem minhas escolhas ou de não concordarem com os meus comportamentos. E este é um dos motivos porque não aceitamos as imposições do PLC 122/06: ele não concede simples direitos, mas cria uma classe social privilegiada e isenta até mesmo de críticas, subtraindo o direito dos outros segmentos sociais de discordarem das práticas homossexuais. Ademais, considerar que a parada evangélica tem um "ranço" e a parada gay usa a "alegria para falar e se manifestar" é puro preconceito. Basta para isso analisar os discursos de representantes da comunidade gay e facilmente se perceberá que a afirmação de Dimenstein não tem fundamento algum.
Outra pérola foi a comparação grotesca entre as duas paradas no que tange ao envolvimento político-partidário. Para Dimenstein a Marcha para Jesus é um evento que mistura religião e política, onde diversos líderes políticos com inúmeras contas a acertar com a justiça, discursam como se fossem paladinos da ética. Não negamos o envolvimento de pastores no mundo da política ou a corrupção de muitos parlamentares que se dizem evangélicos. Mas afirmar que na Parada Gay "não há esquemas políticos nem partidários", como explicar a sociedade as presenças de Marta Suplicy, José Serra, Gilberto Kassab, José Genoíno e tantos outros que inclusive usam esse momento não apenas para se identificarem com o movimento e/ou defenderem suas bandeiras, mas, sobretudo, se projetarem eleitoralmente? 
Respeito as convicções de Gilberto Dimenstein e considero que ele é livre para defender o que quiser, mas diferentemente das conclusões que ele chegou, prefiro a atitude dos evangélicos, que sabem respeitosamente discordar de seus adversários e jamais irão cair na tentação de forçar os homens a acreditar no evangelho que batalhamos, defendemos (Jd. 1.3b) e procuramos viver na sociedade.

domingo, 19 de junho de 2011

Marcação cerrada contra o MEC

Como se não bastassem os diversos problemas que atingem a educação, ainda nos deparamos com sucessivos erros cometidos na mais alta instância educacional do país, o Ministério da Educação. A reportagem abaixo selecionada em minhas pesquisas, aborda um pouco desse problema.

Marcação cerrada contra o MEC

Sindicância vai apurar responsabilidades na distribuição de livros com erros de matemática a alunos de escolas no campo
Uma comissão de sindicância investigativa (CSI) da Controladoria-Geral da União (CGU) foi constituída ontem para apurar as falhas do Ministério da Educação (MEC) na distribuição de livros com erros para 1,3 milhão de alunos de escolas rurais de todo o país no ano passado. Entre as coleções, há um guia de matemática ensinando que 10 – 7 = 4, entre outros equívocos. As obras, editadas pela Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (Secad), custaram cerca de R$ 14 milhões.
A CSI terá prazo de 30 dias para aapuração de eventuais responsabilidades administrativas”. As investigações podem resultar na devolução do dinheiro, no pagamento de multa e na perda de cargos. Quando a obra foi editada no MEC, a Secad era chefiada por André Lázaro, que ocupou o cargo de secretário executivo da Secretaria de Direitos Humanos (SDH) da Presidência da República este ano. Lázaro pediu demissão na última sexta-feira e o cargo ainda está vago.
Os erros no material foram constatados pelo MEC em fevereiro. No entanto, a suspensão na utilização das obras só ocorreu na última quinta-feira, por decisão do ministro da Educação, Fernando Haddad. De acordo com a pasta, três meses teriam sido necessários para a análise do material e para os devidos encaminhamentos. “Depois de ouvirem uma comissão de professores universitários convocada para a análise dos livros, equipes do ministério chegaram à conclusão de que uma nova versão do material de apoio do programa Escola Ativa só poderá ser reutilizada depois de uma discussão com os coordenadores do programa no próprio MEC”, informou a pasta em nota divulgada no último sábado. Uma nova reunião, prevista para a próxima sexta-feira, definirá se o material será recolhido ou, até mesmo, reutilizado.
De acordo com o ministério, os professores de educação no campo já foram orientados a não utilizar as obras nas salas de aula por enquanto. As turmas a que se destinam os livros compreendem estudantes daa 4ª série do ensino fundamental.
Polêmicas - O episódio se soma a uma série de polêmicas envolvendo a pasta chefiada por Fernando Haddad, como os livros de português distribuídos a estudantes do programa de Educação de Jovens e Adultos, nos quais erros de concordância na fala coloquial eram admitidos como corretos. Outros problemas recentes foram a suspensão do controverso kit anti-homofobia nas escolas públicas, as isenções fiscais indevidas concedidas por meio do Programa Universidade para Todos (Prouni), o vazamento de dados pessoais de estudantes no site do Sistema de Seleção Unificada (Sisu) e os recorrentes entraves na aplicação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).

Fonte: MARCAÇÃO cerrada contra o MEC. Diário de Pernambuco, Recife, 07 jun 2011, Brasil, p. 8.

Por que eles desistem de ser professores

    A educação é um tema que discutido exaustivamente na mídia, na política, na sociedade e na própria educação. Não é novidade para ninguém que o Brasil ocupa uma posição extremamente negativa, quando nas avaliações internacionais, os alunos brasileiros são comparados ao estudantes de outros países. O resultado é decepcionante e não revela uma melhora no ensino do país. Muitas causas são apontadas para esse problema, mas, um deles já foi reconhecido a muito tempo atrás e pouca coisa foi feita para que ele fosse solucionado: o salário dos professores, especialmente aqueles que militam na educação pública. Com salários baixos e uma péssima infra-estrutura que dê suporte a uma aprendizagem significativa, poucos jovens desejam se tornar professores e, muitos que o fazem, optam pela carreira porque não obtiveram sucesso em outras áreas mais rentáveis do ponto de vista salarial e mais valorizadas do ponto de vista do reconhecimento social. Muitos já admitem que faltarão professores altamente qualificados para diversas disciplinas nas próximas décadas. A reportagem abaixo selecionada em minhas pesquisas, aborda um pouco desse problema.

Por que eles desistem de ser professores

Salários ruins, condições precárias de trabalho e falta de reconhecimento social são alguns dos fatores apontados pelos profissionais.

Brasília - Ideologia. Essa foi a justificativa usada por Igor Otero, 27 anos, ao trocar, no quarto semestre, o concorridíssimo curso de publicidade na Universidade de Brasília (UnB) pelo de história na mesma instituição de ensino. Ele queria ser professor. O jovem não hesitou nem mesmo diante dos prognósticos pouco animadores que ouvia constantemente sobre a escolha. Formado, ingressou na rede pública de ensino, passou por escolas privadas, mas sucumbiu a uma situação recorrente entre os profissionais que escolhem seguir no sistema educacional brasileiro. Abandonou as salas de aula e a vida acadêmica. Os motivos são os mesmos apontados por tantos outros professores: falta de estrutura para trabalhar e baixa remuneração.
Um levantamento divulgado pela Fundação Carlos Chagas corrobora com as dificuldades na área da educação. Somente 2% dos alunos entrevistados têm a pedagogia ou alguma licenciatura como opção principal no vestibular. “O cotidiano atual do professor, em geral, é muito sofrido. São muitas aulas, salas completamente lotadas, desrespeito por parte dos alunos, falta de reconhecimento social, salários ruins e estrutura física comprometida. É um calvário”, desabafa Otero.
Há um ano, o historiador decidiu prestar concurso público e, atualmente, ganha a vida na seção de Classificação Indicativa do Ministério da Justiça. “Na minha opinião, os salários e as condições de trabalho dos professores deveriam ser suficientemente interessantes para que uma boa parte dos melhores alunos se sentisse atraída pela carreira de magistério. Não é assim. A opção de ser professor tornou-se portanto uma alternativa para aqueles que não conseguiram se estabelecer em outro emprego. Isso acaba atraindo pessoas desmotivadas e despreparadas para as salas de aula”, critica.
A secretária de Educação Básica do Ministério da Educação (MEC), Maria do Pilar, ressalta que o governo federal tem investido em ações para estimular profissionais a seguirem a carreira de professor, mas admite que as iniciativas têm efeito a longo prazo. De acordo com ela, o ministério trabalha na área de formação de profissionais capacitados.
Um piso mais justo - Maria do Pilar destaca ainda a aprovação de um piso salarial acima do salário mínimo. “Isso já é estimulante, mas é claro que o salário precisa melhorar. Essas medidas não têm efeito imediato porque a educação é uma área muito complexa. Por isso, uma política continuada é fundamental e são necessários mais investimentos”, diz a secretária. “No Plano Nacional de Educação, temos uma meta de equiparar o salário inicial de professor com o de outras profissões, como a de engenheiro e jornalista”, completa.
Uma das alternativas encontradas pelo MEC para levar profissionais às salas de aula é abater 1% da dívida do Programa de Financiamento Estudantil (Fies) a cada mês que o beneficiado pelo programa trabalhar na rede pública de ensino. Há outras iniciativas partindo também de instituições privadas. 

Fonte: PORQUE eles desistem de ser professores. Diário de Pernambuco, Recife, 12 jul. 2011, Brasil, p. 14.