terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Seleções um tanto inusitadas

    O mercado de trabalho é um sonho de consumo para muitos adolescentes e jovens que almejam o primeiro emprego ou uma nova colocação no mundo do labor. Porém, não são poucos aqueles que ainda possuem uma visão bastante superada sobre as relações sociais, trabalhistas, econômicas e de recursos humanos. Parte das dificuldades de muitos jovens começa no início de todas as etapas: a seleção. No texto que se segue, veja as mais curiosas seleções para candidatos realizadas em importantes corporações contemporâneas.

domingo, 26 de janeiro de 2014

A farsa em torno da liberação das drogas

O artigo que se segue foi publicado em 2011, mas reflete de forma bastante atual o que existe por trás do discurso da liberação geral do uso das drogas. Como sou radicalmente contrário a essa ideia, compartilho mais um argumento em favor de ações de cidadania visando o resgate das pessoas tragadas pelas substâncias psicoativas. Leciono em um centro de ressocialização para menores em conflito com a lei e muitos deles são ou foram usuários de drogas consideradas "leves" como a maconha. Fica difícil acreditar que a descriminalização do porte, transporte ou venda de drogas seja a melhor solução para o Brasil diante do atual quadro social que vivemos no país. Mina Seinfeld de Carakushansky é Diretora da World Federation Against Drugs e da Drug Watch International.

Por Mina Seinfeld de Carakushansky

Nos últimos dois anos, o Brasil tem recebido freqüentes visitas de figuras mundialmente conhecidas, que aqui vieram juntar-se a políticos  proeminentes,  em reuniões onde a tônica é a defesa da liberação das drogas hoje ilegais. Cabe lembrar que a nossa legislação de drogas é uma das mais liberais do mundo, já que a Lei Nº 11.343, de 2006, restringe somente o tráfico de drogas. O usuário vale-se da lei apelidada de “Ai, Ai, Ai”: o usuário recebe apenas uma simples admoestação do Juiz. Na prática, isso equivale a uma descriminalização das drogas. Coincidentemente ou não, o consumo de drogas aumentou no Brasil, enquanto em alguns países o uso está em queda.
Cabe lembrar dois exemplos importantes: o da Talidomida e o do tabaco.  A Talidomida foi retirada do mercado em 146 países, apesar de seus excelentes efeitos sedativos, pois ao ser consumida por mulheres grávidas, ocasionou o nascimento de crianças com atrofia dos membros ou problemas cardíacos. Hoje a Talidomida é proibida para mulheres em idade fértil. 
Como consequência de todas as guerras do século 20, morreram 80 milhões de pessoas. Nesse mesmo século, por causa do consumo do tabaco morreram 100 milhões. Quase todas essas mortes teriam sido evitadas se os malefícios do tabaco tivessem sido precocemente divulgados de modo amplo. 
Nos debates sobre as drogas que hoje são ilegais, jamais são mencionados os riscos diretos à saúde, a toxicidade para diversos órgãos do corpo e, mais importante que tudo, o fato de que as drogas psicoativas causam dependência.
A ciência já mostrou, através de dezenas de milhares de trabalhos científicos catalogados e com a chancela de associações médicas internacionais, que o uso de maconha está associado a muitas doenças, prejudica a imunidade, e deslancha o ataque cardíaco, além de muitos transtornos mentais graves. O uso de maconha está associado também a vários tipos de câncer, inclusive ao câncer congênito em bebês e provavelmente também danos genéticos. Sabe-se com certeza que os estimulantes como cocaína e anfetamina causam derrame, ataque cardíaco, psicose, comportamentos perigosos e até criminosos quando o usuário de alguma dessas drogas está ao volante.
Se tudo isto está bem documentado e é amplamente aceito pela comunidade médica internacional, por que então não se diz claramente que o uso de drogas deve ser evitado, e não ser considerado como um hábito a ser tolerado? 
Na Austrália, país que tem uma política de saúde leniente na área de drogas psicoativas, é de cerca de 70% a taxa de infecção por hepatite C da população dos que usam drogas intravenosas. O número de pessoas com esquizofrenia paranóide crônica tem também aumentado drasticamente nas últimas décadas, devido ao uso da maconha e das anfetaminas. Ambas são toxinas para o cérebro, e está demonstrado que os seus danos se multiplicam e se complementam entre si, quando elas são usadas em conjunto. 
Deve-se sempre lembrar que estas drogas causam dependência. Isto significa que a demanda por cada uma delas é, por definição, inesgotável, o que torna nula qualquer argumentação – comum entre os legalizadores – no sentido de que o Governo vai conseguir controlar a quantidade ou a qualidade das drogas fornecidas. Aumentando o uso de drogas, tanto em termos do número de indivíduos expostos a elas, quanto em termos de exposição por unidade individual, as complicações que antes eram raras, tornam-se cada vez mais comuns. 
Como é possível defender a legalização das drogas nas rodas elegantes ou boêmias, com um olho no uso recreativo das drogas, e ao mesmo tempo fechar os olhos para os males que elas causam e para a quase inglória luta do nosso sistema de saúde pública para atender, mesmo de forma mínima, às necessidades já existentes na população, que não são poucas?
Tenho visto intelectuais e bem-pensantes defender a legalização das drogas, mas nunca vejo esta posição numa mãe ou um pai que tem um filho dependente.

Fonte: Carakushansky, Mina Seinfeld de. A farsa em torno da liberação das drogas. Disponível em: <http://www.jb.com.br/sociedade-aberta/noticias/2011/03/09/a-farsa-em-torno-da-liberacao-das-drogas/>. Acesso em: 31 out. 2013.

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Eu acuso

Em um momento do seu ministério, o Senhor Jesus Cristo em Jo. 15.18-21 afirmou o seguinte: "Se o mundo odeia vocês, lembrem que ele me odiou primeiro. Se vocês fossem do mundo, o mundo os amaria por vocês serem dele. Mas eu os escolhi entre as pessoas do mundo, e vocês não são mais dele. Por isso o mundo odeia vocês. Lembrem do que eu disse: 'O empregado não é mais importante do que o patrão'. Se as pessoas que são do mundo me perseguiram, também perseguirão vocês; se elas obedeceram aos meus ensinamentos, também obedecerão aos ensinamentos de vocês. Por causa de mim, essas pessoas vão lhes fazer tudo isso porque não conhecem aquele que me enviou." E não é que desde a minha conversão atravesso situações dessa natureza. Na família, no Ensino Médio, na Universidade e enquanto educador. Se você também se sente perseguido por suas convicções, tidas como "conservadoras", "direitistas" ou "reacionárias", analise o artigo que se segue. Ele foi escrito por Luiz Felipe Pondé, pernambucano, filósofo, escritor e ensaísta, doutor pela USP, pós-doutorado em epistemologia pela Universidade de Tel Aviv, professor da PUC-SP e da Faap.

Por Luiz Felipe Pondé

Muitos alunos de universidade e ensino médio estão sendo acuados em sala de aula por recusarem a pregação marxista. São reprovados em trabalhos ou taxados de egoístas e insensíveis. No Enem, questões ideológicas obrigam esses jovens a "fingirem" que são marxistas para não terem resultados ruins.
Estamos entrando numa época de trevas no país. O bullying ideológico com os mais jovens é apenas o efeito, a causa é maior. Vejamos.
No cenário geral, desde a maldita ditadura, colou no país a imagem de que a esquerda é amante da liberdade. Mentira. Só analfabeto em história pensa isso. Também colou a imagem de que ela foi vítima da ditadura. Claro, muitas pessoas o foram, sofreram terríveis torturas e isso deve ser apurado. Mas, refiro-me ao projeto político da esquerda. Este se saiu muito bem porque conseguiu vender a imagem de que a esquerda é amante da liberdade, quando na realidade é extremamente autoritária.
Nas universidades, tomaram as ciências humanas, principalmente as sociais, a ponto de fazerem da universidade púlpito de pregação. No ensino médio, assumem que a única coisa que os alunos devem conhecer como "estudo do meio" é a realidade do MST, como se o mundo fosse feito apenas por seus parceiros políticos. Demonizam a atividade empresarial como se esta fosse feita por criminosos usurários. Se pudessem, sacrificariam um Shylock por dia.
Estamos entrando num período de trevas. Nos partidos políticos, a seita tomou o espectro ideológico na sua quase totalidade. Só há partidos de esquerda, centro-esquerda, esquerda corrupta (o que é normalíssimo) e do "pântano". Não há outra opção.
A camada média dos agentes da mídia também é bastante tomada por crentes. A própria magistratura não escapa da influência do credo em questão. Artistas brincam de amantes dos "black blocs" e se esquecem que tudo que têm vem do mercado de bens culturais. Mas o fato é que brincar de simpatizante de mascarado vende disco.
Em vez do debate de ideias, passam à violência difamatória, intimidação e recusam o jogo democrático em nome de uma suposta santidade política e moral que a história do século 20 na sua totalidade desmente. Usam táticas do fascismo mais antigo: eliminar o descrente antes de tudo pela redução dele ao silêncio, apostando no medo.
Mesmos os institutos culturais financiados por bancos despejam rios de dinheiro na formação de jovens intelectuais contra a sociedade de mercado, contra a liberdade de expressão e a favor do flerte com a violência "revolucionária".
Além da opção dos bancos por investirem em intelectuais da seita marxista (e suas similares), como a maioria esmagadora dos departamentos de ciências humanas estão fechados aos não crentes, dezenas de jovens não crentes na seita marxista soçobram no vazio profissional.
Logo quase não haverá resistência ao ataque à democracia entre nós. A ameaça da ditadura volta, não carregada por um golpe, mas erguida por um lento processo de aniquilamento de qualquer pensamento possível contra a seita.
E aí voltamos aos alunos. Além de sofrerem nas mãos de professores (claro que não se trata da totalidade da categoria) que acuam os não crentes, acusando-os de antiéticos porque não comungam com a crença "cubana", muitos desses jovens veem seu dia a dia confiscado pelo autoritarismo de colegas que se arvoram em representantes dos alunos ou das instituições de ensino, criando impasses cotidianos como invasão de reitorias e greves votadas por uma minoria que sequestra a liberdade da maioria de viver sua vida em paz.
Muitos desses movimentos são autoritários, inclusive porque trabalham também com a intimidação e difamação dos colegas não crentes. Pura truculência ideológica.
Como estes não crentes não formam um grupo, não são articulados nem têm tempo para sê-lo, a truculência dos autoritários faz um estrago diante da inexistência de uma resistência organizada.
Recebo muitos e-mails desses jovens. Um deles, especificamente, já desistiu de dois cursos de humanas por não aceitar a pregação. Uma vergonha para nós.

Fonte: PONDÉ, Luiz Felipe. Eu acuso. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/colunas/luizfelipeponde/2013/11/1366183-eu-acuso.shtml>. Acesso em: 9 jan. 2014.

O ‘perigo vermelho’

Confesso que não tenho muita simpatia pelos comentários de Arnaldo Jabor, mas esse artigo que ele escreveu para o conhecido periódico das Organizações Globo, me levou a refletir sobre o momento político e ideológico que vivemos no Brasil. Afinal de contas, em março de 2014 serão completados 50 anos da "revolução" (como querem os militares) ou "golpe" (como deseja a esquerda de forma geral) de 1964. Ainda vem muita coisa por aí.

Por Arnaldo Jabor

Retiraram o corpo de João Goulart da sepultura para examiná-lo. Coisa deprimente, os legistas examinando ossos de 40 anos atrás para saber se foi envenenado. Mas, havia também algo de um ritual de ressurreição encenada. Jango voltava para a turma que está no poder e que se considera vítima de 1964 até hoje. Só pensam no passado que os “legitima” com nostalgia masoquista de torturas, heranças malditas, ossadas do Araguaia, em vez de fazerem reformas no Estado paralítico e patrimonialista.
Querem continuar a “luta perdida” daqueles tempos ilusórios. Eu estava lá e vi o absurdo que foi aquela tentativa de “revolução” sem a mais escassa condição objetiva. Acuaram o trêmulo Jango, pois até para subversão precisavam do Governo. Agora, nossos governantes continuam com as mesmas ideias de 50 anos atrás. Ou mais longe. Desde a vitória bolchevique de 1921, os termos, as ilusões são as mesmas. Aplica-se a eles a frase de Talleyrand sobre a volta dos Bourbons ao poder: “Não aprenderam nada e não esqueceram nada”.
É espantosa a repetição dos erros já cometidos, sob a falácia do grande “teólogo” da História, Hegel, de que as derrotas não passam de “contradições negativas” que levam a novas teses. Esse pensamento justificou e justifica fracassos e massacres por um ideal racional. No PT e em aliados como o PC do B há um clima de janguismo ou mesmo de “brizolismo”, preferência clara da Dilma.
Brizola sempre foi uma das mais virulentas e tacanhas vozes contrárias ao processo de desestatização.
Mas, além dessas mímicas brasileiras do bolchevismo, os erros que querem repetir os comunistas já praticavam na época do leninismo e stalinismo: a mesma postura, o mesmo jargão de palavras, de atitudes, de crimes justificados por mentiras ideológicas e estratégias burras. Parafraseando Marx, um espectro ronda o Brasil: a mediocridade ideológica.
É um perigo grave que pode criar situações irreversíveis a médio prazo, levando o país a uma recessão barra pesada em 2014/15. É necessário alertar a população pensante para esse “perigo vermelho” anacrônico e fácil para cooptar jovens sem cultura política. Pode jogar o Brasil numa inextrincável catástrofe econômica sem volta.
Um belo exemplo disso foi a recusa do Partido Comunista Alemão a apoiar os socialdemocratas nas eleições contra os nazistas, pois desde1924 Stalin já dizia que os “socialdemocratas eram irmãos gêmeos do fascismo”. Para eles, o “PSDB” da Alemanha era mais perigoso que o nazismo. Hitler ganhou e o resto sabemos.
Nesta semana li o livro clássico de William Waack “Camaradas”, sobre o que veio antes e depois da intentona comunista de 1935 (livro atualíssimo que devia ser reeditado), e nele fica claro que há a persistência ideológica, linguística, dogmática e paranoica no pensamento bolchevista aqui no Brasil. A visão de mundo que se entrevê na terminologia deles continua igual no linguajar e nas ações sabotadoras dos aloprados ao mensalão — o fanatismo de uma certeza. Para chegar a esse fim ideal, tudo é permitido, como disse Trotsky: “a única virtude moral que temos de ter é a luta pelo comunismo”. Em 4 de junho de 1918, declarou publicamente: “Devemos dar um fim, de uma vez por todas, à fábula acerca do caráter sagrado da vida humana”. Deu no massacre de Kronstadt, em 21.
No Brasil, a palavra “esquerda” continua o ópio dos intelectuais. Pressupõe uma “substância” que ninguém mais sabe qual é, mas que “fortalece”, enobrece qualquer discurso. O termo é esquivo, encobre erros pavorosos e até justifica massacres. Temos de usar “progressistas e conservadores”.
Temos de parar de pensar do Geral para o Particular, de Universais para Singularidades. As grandes soluções impossíveis amarram as possíveis. Temos de encerrar reflexões dedutivas e apostar no indutivo. O discurso épico tem de ser substituído por um discurso realista, possível e até pessimista. O pensamento da velha “esquerda” tem de dar lugar a uma reflexão mais testada, mais sociológica, mais cotidiana. Weber em vez de Marx, Sérgio Buarque de Holanda em vez de Caio Prado, Tocqueville em vez de Gramsci.
Não tem cabimento ler Marx durante 40 anos e aplicá-lo como um emplastro salvador sobre nossa realidade patrimonialista e oligárquica.
De cara, temos de assumir o fracasso do socialismo real. Quem tem peito? Como abrir mão deste dogma de fé religiosa? A palavra “socialismo” nos amarra a um “fim” obrigatório, como se tivéssemos que pegar um ônibus até o final da linha, ignorando atalhos e caminhos novos.
A verdade tem de ser enfrentada: infelizmente ou não, inexiste no mundo atual alternativa ao capitalismo. Isso é o óbvio. Digo e repito: uma “nova esquerda” tem de acabar com a fé e a esperança — trabalhar no mundo do não sentido, procurar caminhos, sem saber para onde vai.
No Brasil, temos de esquecer categorias ideológicas clássicas e alistar Freud na análise das militâncias. Levar em conta a falibilidade do humano, a mediocridade que se escondia debaixo dos bigodudos “defensores do povo” que tomaram os 100 mil cargos no Estado.
Além de “aventureirismo”, “vacilações pequeno burguesas”, “obreirismo”, “sectarismo”, “democracia burguesa,” “fins justificando meios”, “luta de classes imutável” e outros caracteres leninistas temos de utilizar conceitos como narcisismo, voluntarismo, onipotência, paranoia, burrice, nas análises mentais dos “militantes imaginários”.
Baudrillard profetizou há 20 anos: “O comunismo hoje desintegrado tornou-se viral, capaz de contaminar o mundo inteiro, não através da ideologia nem do seu modelo de funcionamento, mas através do seu modelo de des-funcionamento e da desestruturação brutal”, (vide o novo eixo do mal da A. Latina).
Sem programa e incompetentes, os neobolcheviques só sabem avacalhar as instituições democráticas, com alguns picaretas-sábios deitando “teoria” (Zizek e outros). Somos vítimas de um desequilíbrio psíquico. Muito mais que “de esquerda” ou “ex-heróis guerrilheiros” há muito psicopata e paranoico simplório. Esta crise não é só política — é psiquiátrica.

Fonte: JABOR, Arnaldo. O 'perigo vermelho'. Disponível em: <http://oglobo.globo.com/cultura/o-perigo-vermelho-11224735#ixzz2puVPj166>. Acesso em: 9 jan. 2014.

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Rachel Sheherazade: a mulher que aterroriza a esquerda

     Li o artigo e alguns comentários postados pelos leitores na página indicada no final do artigo. A maioria concordava com o articulista tecendo outras observações ou repúdio aos comentários do filósofo Paulo Ghiraldelli Jr. Mas, uma pessoa que se identificou por Uatá, procurou amenizar a gravidade do que o filósofo escreveu. "Pode ser ele o autor do post, ao meu ver, sem problemas. A questão é como se movimentam em torno de visões de mundo. (...) O problema é o linchamento, imagina, supondo que seja eu ou você, dizer de primeira, EU FIZ! Há risco de quebradeira e de morte não só minha, mas de terceiros. O maior perigo é o linchamento virtual passar para a vida real devido ao transe emocional." É um argumento estranho, porque o pastor Marco Feliciano passou pelo mesmo processo e a esquerda em nenhum momento exerceu piedade. Pegaram frases soltas, desconexas e declarações infelizes para linchar o pastor publicamente. Algum esquerdista se preocupou com isso? Não. E no final do comentário, o leitor Uatá nos brinda com uma declaração que revela o motivo para tanta preocupação. "Agora essa jornalista, bom, ela é apenas o produto de todo moralismo aprendido em igrejas evangélicas somado ao moralismo cruel de um posicionamento ultra-conservador de direita, aí você solta essa coisa na TV e as pessoas mais limítrofes compram a ideia dela." Preciso comentar mais alguma coisa?

Por José Maria e Silva

Autor de vários livros adotados em faculdades de Pedagogia, o filósofo Paulo Ghiraldelli Jr. desejou, como votos para 2014, que a âncora do jornalismo do SBT seja estuprada — não por ser misógino, mas por ser membro de uma universidade quase totalitária.
Volta e meia os institutos de pesquisa avaliam o grau de confiança da população nas principais instituições do País, como partidos políticos, igrejas, sindicatos, empresas, organizações não governamentais, polícia, Corpo de Bombeiros, Correios, Congresso Nacional, etc. Até a credibilidade de Deus é posta em questão: as pesquisas também querem saber se as pessoas acreditam ou não n’Ele. Curiosamente, só os intelectuais e as universidades nunca são avaliados – é como se fossem mais infalíveis do que Deus. Parece não passar pela cabeça dos pesquisadores de opinião que alguém possa não confiar num professor universitário. De fato, se fosse feita uma pesquisa de opinião para avaliar o grau de confiança da população nas universidades e nos intelectuais, o índice de aprovação seria altíssimo. O que é um perigo.
Os intelectuais não são imunes ao erro e estão longe de ser um exemplo de moralidade. Se as pessoas comuns soubessem do que os intelectuais são capazes, especialmente quando ungidos pela suposta santidade da ciência, elas ficariam estarrecidas. Basta dizer que o terrorismo moderno é, sem dúvida, uma criação da intelectualidade universitária, que não só apoia a ação de grupos terroristas como sempre foi a fonte de seus principais líderes. Que o diga a luta armada brasileira, feita com braços arregimentados nas universidades. Quando os guerrilheiros do grupo colombiano M-19 tomaram a embaixada da República Dominicana em Bogotá, em fevereiro de 1980, e fizeram cerca de 60 reféns, inclusive embaixadores, os universitários colombianos promoveram manifestações de apoio aos terroristas nas imediações da embaixada.
Hoje, o “terrorismo intelectual”, para usar uma expressão do jornalista e ensaísta francês Jean Sévillia, está cada vez mais ousado, disfarçando-se de ciência de ponta quando não passa da mais baixa mistura de ideologia marxista e instintos primitivos. Uma de suas versões mais sorrateiras é a suposta luta contra o preconceito, por meio da ditadura do “politicamente correto”. Para­doxalmente, o terrorista intelectual também é capaz de fingir que se insurge contra essa ditadura em nome da liberdade de expressão, sendo que, na prática, faz o contrário. Um exemplo de terrorismo intelectual que se enquadra justamente nesse último aspecto do fenômeno são os agressivos ataques à jornalista Rachel Sheherazade, âncora do telejornal “SBT Brasil”. Uma das fontes desses ataques é o filósofo Paulo Ghiraldelli Jr., autor de vários livros e professor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.
Na quinta-feira, 26 de dezembro, no Facebook do filósofo Paulo Ghiraldelli Jr. foi postada a seguinte mensagem: “Meus votos para 2014: que Rachel Sherazedo seja estuprada”. Logo em seguida, foi postada outra mensagem com o mesmo teor: “Votos para 2014: que a Rachel Sherazedo abrace bem forte, após ser estuprada, um tamanduá”. Alertada por um amigo, Shehera­zade denunciou os ataques em seu Twitter: “Caso grave de incitação ao crime, promovido pelo Sr. Paulo Ghiraldelli ou quem se faz passar por ele. Compartilhem!” Em seguida, questionou diretamente o próprio filósofo: “Sr. Ghiraldelli, liberdade de expressão termina onde começam calúnia, difamação, ameaça, incitação ao crime! Vai aprender isso num tribunal!”. E, no dia 30, a jornalista postou no Twitter: “Mis­são cumprida: esta manhã fui à delegacia competente representar penalmente contra meu agressor ou quem se faz passar por ele. Agora, é só aguardar as providências legais e a providência divina. Tenho a certeza de que cumpri meu papel de cidadã”.
Diante da pronta reação da jornalista, o filósofo recuou. Numa mensagem enviada diretamente para o Twitter de Sheherazade, Ghiraldelli tentou se justificar: “Prezada Rachel Sheherazade, não sou favorável a qualquer incitação à violência contra mulher, menos ainda à imprensa. Posso me explicar?” Reparem que, já nessa curta mensagem, Ghiraldelli tropeça na gramática e na ética e mostra que nada entende de direitos humanos, apesar de fingir defendê-los. Para o filósofo, uma incitação à violência contra a mulher é menos grave do que uma incitação à violência contra a imprensa. É como se instituições abstratas não fossem feitas de seres humanos concretos e fosse possível preservá-las descartando as pessoas. Por esse esconso critério de Paulo Ghiraldelli Jr., uma ditadura sanguinária que fuzilasse gente seria preferível a uma ditadura autoritária que apenas empastelasse jornais. Felizmente, para a família Mesquita, o ditador Getúlio Vargas não achou que poderia fuzilar os donos do “Estadão”, já que mantivera o jornal circulando mesmo sob intervenção.
Paulo Ghiraldelli negou ser o autor dos votos de que Rachel Sheherazade seja estuprada em 2014. Ele alegou que seu Facebook foi invadido por “hackers” e apagou as mensagens de incitação à violência contra a jornalista. Mas o filósofo deve ter fugido das aulas de lógica. Se não é o autor das mensagens injuriosas contra Sheherazade, Ghiraldelli não pode se limitar a pedir desculpas a ela por um crime que alega não ter cometido – até para demonstrar sua alegada inocência, seu dever é prontificar-se a ajudar a jornalista a descobrir o criminoso que a atacou. Para isso, tão logo se deu conta da invasão, além do pedido de desculpas e de apagar as mensagens, ele próprio deveria ter recorrido à polícia para descobrir quem foi que o usou para atacar a âncora do SBT. Todavia, o filósofo fez o contrário: ele tentou – e continua tentando – se passar por vítima, não só do suposto “hacker” que teria invadido seu perfil, mas também da “direita” e até da própria Rachel Sheherazade, a verdadeira vítima nessa história, uma vez que tem sido alvo recorrente de ataques da esquerda.

O desespero do filósofo contraditório

Paulo Ghiraldelli Jr. é um dos que atacam sistematicamente a âncora do SBT apesar de ter tentado negar esse fato na entrevista que concedeu à “Folha de S. Paulo” em 28 de dezembro, em reportagem de Anahi Martinho. Ghiraldelli, segundo o jornal, negou ser o autor das postagens e disse que ficou surpreso com a reação da jornalista: “Eu não tenho absolutamente nada contra aquela moça. Conheço o trabalho dela, sei quem ela é, mas jamais escrevi nenhuma frase contra ela” – declarou à “Folha”, num surto de amnésia. O jornal acrescenta: “Demonstrando irritação com a polêmica e a reação do público, ele afirmou não temer um processo na Justiça. ‘Minha carreira de 40 anos e meus livros não valem nada? O que vale é um Twitter que nem posso comprovar se fui eu que escrevi ou não? Se eu for processado, vou lá no tribunal, respondo. Se for condenado, pago uma cesta básica e pronto. Não vai acontecer absolutamente nada. É o milésimo processo que eu vou tomar’, disse.” Ainda segundo a “Folha”, Paulo Ghiraldelli “também negou ser o autor de outras postagens antigas ironizando Shehera­zade, encontradas em suas contas no Twitter e Facebook”.
As declarações de Paulo Ghiral­delli são tão contraditórias que não parecem saídas da boca de um filósofo. Ao mesmo tempo em que diz não ser autor dos ataques à jornalista, ele zomba da Justiça ao dizer que sua condenação, se ocorrer, não passará do pagamento de cestas básicas. Mas, valendo-se do Twitter, ele mandou uma sequência de mensagens para a âncora do SBT que revelam certo desespero: “Prezada Rachel Sheherazade, eu retirei minha conta do ar, em respeito a você, agora peço que tire o post do ar para não incitarmos torcidas. Não há nenhuma justiça nos julgamentos a priori, nas denúncias a partir de meios inseguros. Isso é linchamento público. Repudio. Gostaria que tirasse do seu Face a conclamação contra mim, pois trata-se de injustiça. Eu estou pedindo desculpas públicas”. Reparem na distorção dos fatos promovida pelo filósofo: de algoz de Rachel Sheherazade, ele tenta se passar por sua vítima, acusando a jornalista de linchá-lo publicamente, quando ela está apenas se defendendo dos ataques sórdidos que sofreu. É uma ignomínia que um filósofo e professor universitário – sustentado com dinheiro público – tenha esse tipo de comportamento.
Nas declarações à “Folha de S. Paulo”, o filósofo Paulo Ghiraldelli Jr. manteve essa estratégia de criminalizar Rachel Sheherazade: “Quando recebi o recado dela no Twitter, duvidei que era ela de verdade. Sou um simples professor de filosofia, um coitado, completamente desconhecido do mundo. E de repente uma jornalista da televisão querendo me caçar? A maneira com que ela me abordou não foi normal”. Ele disse que jamais faria piadas com conteúdo violento: “Eu não gosto desse tipo de brincadeira [sobre estupro]. Não é do meu feitio. Embora não ache que se deve censurar humorista, caçar gente por aí”. Como fica claro, Paulo Ghiraldelli, que se define como “o filósofo da cidade de São Paulo”, resolveu concorrer com o “Porta dos Fundos” e está se autonomeando “humorista”, numa tentativa desesperada de escapar da Justiça. Espero que a Faculdade de Pedagogia da Universidade Federal de Goiás e demais cursos de pedagogia do País retirem de suas respectivas bibliografias de graduação e pós-graduação os livros desse humorista confesso.

Extermínio verbal de Sheherazade

Convém citar mais dois trechos da reportagem da “Folha de S. Paulo”, pois ambos são emblemáticos da miséria moral e intelectual em que vivemos. Eis o primeiro trecho: “Mesmo negando ser o autor de todas as postagens contra Shehe­razade, Ghiraldelli lançou mão de outro argumento para se defender. Ele disse que não há lei que possa incriminá-lo por desejar o mal de alguém. ‘Vamos supor que tivesse sido eu. Primeiro que não tem o nome dela. E ainda que ela vista a carapuça, nada me impede legalmente de desejar mal a uma pessoa. Jogar praga não é crime’, defendeu-se.” Eis o segundo trecho: “A âncora [Rachel Sheherazade] é conhecida por seus editoriais controversos e de teor conservador à frente da bancada do SBT. Ela já criticou o Bolsa Família, defendeu o deputado e pastor Marco Feliciano (PSC-SP) e recentemente fez uma declaração sobre o esquecimento de Jesus no Natal”.
Ghiraldelli não só precisa conhecer melhor as leis do País como também deveria aplicar na prática seus possíveis conhecimentos de antropologia e sociologia. Ele sabe que cada indivíduo exerce, em diferentes espaços e tempos, os mais variados papéis sociais. Em sua vida privada, Paulo Ghiraldelli Jr. provavelmente é o eterno “Paulinho” de seus pais, o “benzinho” ou “amorzinho”, sei lá, de sua esposa, o “Paulo” dos amigos, o “seu” Paulo da vizinhança, etc. Mas, na universidade, na imprensa e na internet, ele é o professor e filósofo Paulo Ghiraldelli Jr., que se orgulha de ter cerca de 40 anos de profissão e mais de 30 livros publicados, alguns deles adotados em universidades de todo o País. E “jogar praga”, obviamente, não faz parte do papel social de um filósofo e professor, do qual se espera um comportamento racional, condizente com a ciência de seu tempo, na qual não há espaço para as superstições populares. Figuras públicas precisam entender que redes sociais não são as velhas cercas que separam quintais e serviam para as vizinhas fofocarem. Logo, o professor universitário não “jogou praga” na jornalista do SBT – ele incitou a prática de crime contra ela, incorrendo no artigo 286 do Código Penal, tornando-se passível de pena de detenção de três a seis meses de prisão ou multa.
E não é a primeira vez que ele age assim. Desde que Rachel Shehera­zade despontou na televisão brasileira com suas contundentes – e elegantes – críticas ao pensamento de esquerda, Paulo Ghiraldelli passou a atacá-la sistematicamente no Facebook e no Twitter. Ou todas aquelas postagens atacando a jornalista foram obra de invasores? Ghiraldelli precisa tomar cuidado com o uso indiscriminado que tem feito dessa desculpa esfarrapada ou corre o risco de ser processado pelo Facebook e o Twitter, pois não é possível que essas redes sociais sejam assim tão inseguras a ponto de colocarem em maus lençóis um professor universitário que navega na internet há anos e sabe como se proteger minimamente. Entre diversas postagens contra Sheherazade que já apareceram nos perfis de Ghiral­delli convém destacar a que data de 28 de março de 2013, garimpada por Felipe Moura Brasil, blogueiro de “Veja”: “Evanjegue não lava a xana! Então... Rachel Cheira­zedo”. Esses dizeres foram estampados sobre uma foto do rosto da apresentadora, seguida por outras postagem que lhe serve de legenda: “Essa é a Rachel, o braço de Feliciano na TV. Ela incita o racismo, a xenofobia e a crueldade com animais”.
Agora, convém reler o trecho da reportagem da “Folha de S. Paulo” em que Rachel Sheherazade é descrita como a âncora que “é conhecida por seus editoriais controversos e de teor conservador”. Marilena Chauí chama de “desgraça” a classe média que lhe paga o salário, mas nunca foi classificada como “filósofa controversa”, mesmo sendo mais devota do PT do que da própria filosofia. Já Rachel Sheherazade é tida como “controversa” por defender a liberdade de expressão de um deputado democraticamente eleito, criticar um mero programa governamental como o Bolsa-Família e até pelo fato de dizer que Jesus está sendo esquecido no Natal – um fato que pode ser constatado por qualquer ateu. Ou é possível negar que o espírito religioso dessa festa há muito cedeu lugar para o seu caráter comercial? Se uma âncora de TV diz isso, ela está dizendo algo de “controverso”? Controverso é o “kit gay” ser distribuído para crianças nas escolas e não o pensamento de quem condena essa prática imoral, como faz Rachel Sheherazade, expressando o pensamento da esmagadora maioria da população brasileira, ainda não contaminada pelo vírus da imoralidade acadêmica.

Universidade em ritmo de barbárie

Os ataques do filósofo Paulo Ghiraldelli Jr. à jornalista Rachel Sheherazade não são um caso isolado – eles são um sintoma da barbárie que tomou conta das universidades brasileiras, num sentido diverso daquele que o filósofo José Arthur Giannotti emprestava ao tema quando o tratou num livro com esse título publicado em 1986. Paulo Ghiraldelli não é um desconhecido professor como fingiu ser na reportagem da “Folha de S. Paulo”. Ele é o principal discípulo brasileiro do filósofo pragmatista norte-americano Richard Rorty (1931-2007), que tem considerável influência nas universidades brasileiras, com cerca de 30 dissertações e teses defendidas sobre sua obra e vários livros traduzidos e publicados em português. Além de ser um dos responsáveis pela divulgação do filósofo norte-americano no Brasil, Paulo Ghiraldelli Jr., juntamente com Michael Peters, organizou o livro “Richard Rorty: Education, Philosophy, and Politics” (“Richard Rorty: Educação, Filosofia e Política”), publicado nos Estados Unidos em 2001.
Paulo Ghiraldelli Jr., segundo informa em seu currículo Lattes, é “filósofo e escritor”. Tem doutorado em filosofia pela USP e doutorado em filosofia da educação pela PUC-SP. Tem mestrado em filosofia pela USP e mestrado em filosofia e história da educação pela PUC-SP. Fez sua livre-docência na Unesp e o pós-doutorado na Uerj, com a tese “Corpo: Filosofia e Educação”. Em seu currículo, ele informa ainda que “foi pesquisador nos Estados Unidos e na Nova Zelândia; é editor internacional e participante de publicações relevantes no Brasil e no exterior; possui mais de 40 livros em filosofia e educação; trabalha como escritor e tem presença constante na mídia imprensa, falada e televisiva” – o que depõe contra sua afirmação à “Folha de S. Paulo” de que não passa de um “simples professor de filosofia”, um “coitado”, “desconhecido do mundo”. Também Dirige o Centro de Estudos em Filosofia Americana (Cefa) é é professor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.
Mas engana-se quem pensa que Rachel Sheherazade foi escolhida como alvo de Paulo Ghiraldelli por ele ser misógino. Em um ponto ele tem razão: sua carreira intelectual, ao menos retoricamente, se alinha com o feminismo, as minorias, a liberdade de expressão. Ocorre que, mesmo se apresentando como alguém que não é de “esquerda” nem de “direita” e, sim, uma espécie de libertário, Paulo Ghiraldelli Jr. é como a filósofa Marilena Chauí, que acredita que só existe ética de esquerda. Por isso, ele não perdoa Rachel Sheherazade, que ousa discordar do pensamento hegemônico de esquerda, sobretudo num veículo de grande impacto, como a televisão. A âncora do SBT não é exatamente uma porta-voz da direita, como afirma Ghiraldelli. Ela apenas exprime o bom senso da maioria da população, que, mesmo de forma inconsciente, não aceita o totalitarismo de esquerda que quer destruir todos os valores morais da sociedade. Por isso, a esquerda quer eliminar Rachel Sheherazade do debate público. É a liberdade de expressão sendo acossada, mais uma vez, pela esmagadora capacidade de pressão da esquerda.

Fonte: SILVA, José Maria e. Rachel Sheherazade: a mulher que aterroriza a esquerda. Disponível em: <http://networkedblogs.com/SDVPz>. Acesso em: 8 jan. 2013. Jornal Opção. Edição 2009,  de 5 a 11 de janeiro de 2014.  Análise.

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

A agonia da liberdade na América Latina

    A liberdade de imprensa é um dos pressupostos básicos de qualquer democracia. Evidentemente há um preço a se pagar, pois a imprensa é livre, mas não necessariamente independente. O que significa isso? Que a liberdade de imprensa não é devidamente acompanhada de uma clara e transparente apuração dos fatos, algo que deveria estar inevitavelmente ligado ao mundo da mídia. Mas, na prática não é isso o que ocorre. A imprensa pode ter contrato ou não com os governos e geralmente se posiciona em determinadas situações confundindo o cidadão com sua opinião particular dos fatos. Todavia, seja de direita ou de esquerda, considero que é muito melhor que assim aconteça do que existir uma censura ditatorial a qualquer posição manifestada pelos meios de comunicação.



Dos protestos de rua para a vida partidária

Ao ser questionado sobre os rumos, a natureza, os objetivos e os meios utilizados nas manifestações de junho/julho do ano passado, na maioria das ocasiões preferi ficar calado. Sabia que por trás de qualquer manifestação pública existe muito mais do que uma mera pauta de reivindicações. Mas, o momento exigia apenas que observasse. A imprensa brasileira teceu loas aqueles manifestantes. Foi muito curioso ouvir personalidades dos telejornais comunicar que estavam ocorrendo manifestações pacíficas com pessoas invadindo propriedades públicas e impedindo o livre direito de ir e vir dos demais cidadãos. Por outro lado, também se percebeu uma mudança na tonalidade do discurso a medida que as manifestações prosseguiam junho adentro. No início, aqueles que partiam para a quebradeira eram chamados de manifestantes mais "exaltados'. No final, passou a existir uma distinção entre manifestante pacíficos e vândalos destruidores.
No meios acadêmicos tudo entrou no pacote. Professores marxistas elogiavam os manifestantes e faziam questão de afirmar que o movimento tinha um caráter apartidário. Não faltaram aqueles que no meio de suas observações colocaram na pauta dos manifestantes todos os pecados não resolvidos nos 50 mil anos da história do Brasil. Entretanto, não foi raro observar que muitos jovens ao concluírem seus gritos de guerra, procuravam os shoppings para se confraternizar com Coca-Cola e pizzas ou observar os novos modelos de smartphones e tablets disponíveis no mercado.
Mas, eu desconfiava também que muitos daqueles jovens, buscavam os holofotes da mídia internacional que acabara de chegar ao Brasil por ocasião da Copa das Confederações. E muitos deles apareceram. Da mesma forma que os "cara pintadas" nos anos 90, que até hoje acreditam que são os responsáveis pela renúncia do ex-presidente Fernando Collor, muitos daqueles cidadãos apoiarão seus candidatos ou serão candidatos nas eleições desse ano. Como se pode observar na reportagem que se segue, muitos deles já entraram nos tradicionais partidos políticos.
Mas, a generalização é um pecado que tem derrotado a credibilidade de muitos acadêmicos. Muitos daqueles que foram as ruas, desejavam ardentemente um país mais justo, menos corrupto e mais transparente. Vamos esperar para ver se o desejo deste segmento vai se concretizar nas urnas.



Os homens das multidões

Uma razoável rede de transportes não deve se restringir ao transporte rodoviário, mas, levando-se em consideração o tamanho do país ou da região, outros tipos de transportes merecem receber investimentos. Lamentavelmente, nos anos 50 o Brasil fez uma opção quase que individualizada pelo transporte rodoviário, sobretudo pelos automóveis e pouco investiu no transporte público de massas. Até os trens disponíveis em boa parte do Nordeste, Sudeste e Sul foram lentamente sendo sucateados em diversos Estados. Em alguns foram substituídos pelos metrôs, mas estes últimos em grande parte, procuram atender as regiões metropolitanas. Os trens possuíam uma vantagem interessante. Ligavam as capitais a diversos municípios do interior e a outras capitais. Em Pernambuco por exemplo, era possível sair de São Lourenço da Mata para as praias de Boa Viagem.
A maioria dos trens de transporte de passageiros em Pernambuco foi desativada. O metrô atende apenas a demanda da área metropolitana e ainda assim, numa precariedade absurda, visto que nenhum município da área norte, é atendido por esse meio de transporte. E naqueles que são atendidos, os usuários são obrigados a conviver com estações e vagões absurdamente lotados nos horários de pico. Entrar no metrô do Recife nos horários de pico é reconhecer na pele como se sente uma sardinha enlatada.






Combate coletivo

      Apesar de possuir um automóvel, por questões pessoais passei a utilizar os coletivos numa frequência muito maior ao longo de 2013. Entretanto, além de conviver com a típica demora, principalmente nos horários de pico, me incomodava ver a falta de respeito e educação das pessoas quando passam a frente nas filas e tumultuam a entrada nos ônibus. Muitas vezes, precisava fazer o mesmo porque corria o risco de não chegar no trabalho dentro do horário estabelecido. A reportagem abaixo analisa um pouco desse drama entrevistando motoristas e usuários do transporte público. Na próxima postagem, trarei algo abordando o cotidiano do metrô.






Medicina da morte

     Apesar do ativismo abortista considerar que o direito de abortar é uma questão de saúde pública, essa não é uma opinião compartilhada pela maioria dos brasileiros, muito menos chega a ser um consenso dentro da classe médica. O artigo abaixo reflete um pouco dessa discussão.


Como dizer adeus?

     Quem nunca se deparou com aquela sensação estranha, de algo a fazer falta na vida, quando realiza a mudança de uma residência para outra? Isso já aconteceu comigo em diversos momentos na vida. E, quando passo novamente pelos locais que foram significativos em minha história, sempre lembranças são despertadas na memória, as mudanças que foram realizadas e os amigos que ficaram para trás. Isso e outras questões são abordadas na reportagem que se segue.





quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

O colecionador de telefones

     A atitude das pessoas com relação ao colecionismo oscila entre o desprezo e o fascínio. Desprezo porque no início, elas pouco se importam em juntar o que popularmente se chama "velharias"; fascínio porque anos depois, quase ninguém encontra facilmente conservado e organizado aquilo que anteriormente chamava-se "velharia". Entre as duas opções, o aposentado Carlos Aécio de Albuquerque preferiu a segunda. Resultado: ele é dono de uma invejável coleção de telefones antigos, discos de vinil, toca discos e máquinas de escrever.