O que é intolerância? Como melhor se define essa expressão? Apesar
do artigo abaixo propor uma aparente dicotomia entre o ateu "maldoso"
e o cristão "bonzinho", não deixa de ser interessante observar como
atualmente os cristãos estão sendo associados a todo tipo de fanatismo
religioso e intolerância, quando ao mesmo tempo suas convicções doutrinárias,
éticas, morais, acadêmicas, sexuais e sociais são o tempo todo ridicularizadas
e associadas ao atraso. Se questionamos uma informação, somos preconceituosos.
Se somos criticados isso é visto como um avanço. Afinal de contas, o que é ser
preconceituoso? Analise o artigo abaixo e acompanhe essa discussão. Ruy Marinho é um cristão reformado, casado com Sandra Nara e
pai do Davi. Diretor de arte, designer gráfico por formação. Teólogo,
apologista cristão e blogueiro, autor de diversos artigos referentes à defesa
da fé cristã, bem como refutações de práticas anti-bíblicas, de seitas e
heresias. Editor do Blog Bereianos e articulista de outros blogs e sites.
Por Ruy Marinho
Nesta semana, tive o conhecimento de uma
entrevista feita com o bisneto de Charles Darwin, Sr. Matthew Chapman,
publicada no site UOL e noticiada pelo Gospel+. Trata-se de um cineasta
neo-ateu norte-americano, que dirigiu um filme chamado “A Tentação”, o qual
estreou no Brasil recentemente.
Confesso que tenho o hábito de acompanhar
debates interessantes entre apologistas cristãos e ateus, muitos deles com um
bom nível de respeito e honestidade com as questões abordadas. Porém, fiquei
surpreso com a desonestidade intelectual apresentada nesta entrevista por este
secularista pós-moderno norte-americano. Com alto teor de covardia e afirmações
falaciosas, Chapman parece não ter “evoluído” segundo seu bisavô famoso.
Afinal, Charles Darwin não era necessariamente ateu, mas sim agnóstico, bem
mais coerente nos questionamentos sobre a existência de Deus do que seu
bisneto. Além disso, existem indícios de que no final de sua vida Darwin tenha
reconciliado-se com o cristianismo.[1]
Na entrevista, o Sr. Chapman afirma: “Eu
achei que estava na hora de fazer um thriller sobre os dois lados opostos da fé
americana. Um que é secular, sofisticado e educado e outro que é bíblico,
homofóbico, subjuga as mulheres e acredita que o universo só tem 10 mil anos de
idade. E tem muita gente que acredita nisso nos EUA.”
Com este argumento desonesto e depreciativo
ao cristianismo, o Sr. Chapman em uma atitude dualisticamente maniqueísta,
coloca os ateus como sofisticados e educados, contrapondo os cristãos como
mal-educados, homofóbicos e subjugantes de mulheres. Ele erra ao utilizar este
argumento inconsistente, pois ignora a realidade dos fatos para expressar seu
pensamento tendencioso. É óbvio que existem alguns mal-educados no meio
cristão, como também existe no meio secular e inclusive entre os ateus. Prova
disso é a própria atitude do Sr. Chapman, na qual mostra exatamente o oposto do
que ele afirma ser. Ora, suas afirmações não procedem! Os ensinamentos do
cristianismo são totalmente opostos aos que ele acusa.
Como cristãos, reprovamos qualquer atitude
de violência. O fato de não concordar com o comportamento homossexual em razão
da fé cristã e de questões naturais, não significa que somos “doentes”. Ora, a
palavra homofobia é uma patologia psicológica direcionada àqueles que possuem
medo irracional ou aversão excessiva pelos homossexuais. Esta palavra é
utilizada desonestamente por militantes gays para nomear aqueles que manifestam
“opiniões” contrárias às práticas homossexuais. Uma incoerência absurda que
infelizmente virou moda no Brasil!
Outra afirmação falsa é que o cristianismo
subjuga mulheres. Quem ler a Bíblia respeitando o contexto completo, saberá que
nenhuma outra religião do mundo concede às mulheres uma posição tão
privilegiada e honrosa como o cristianismo. No Antigo Testamento, por conta da
dureza do coração da humanidade e segundo o contexto cultural e histórico da
época, existia uma punição rigorosa, tanto para mulheres adúlteras, quanto para
homens adúlteros, ladrões, assassinos, estupradores etc. (Lv 20:10, 20:27,
24:10-13. Dt 13:5-10, 21:8-21, 22:22-24). Porém, como desconhecedores da
Bíblia, os ateus fragmentam as escrituras pegando textos isolados da Antiga
Aliança, bem como ignoram o Novo Testamento, para tentar descredibilizar a Bíblia
e ainda afirmar que tais atos são praticados por nós cristãos nos dias de hoje.
Um absurdo!
Deus criou a mulher, pois sabia que sem ela,
o homem não seria feliz (Gn 2:18). Sara, a esposa de Abraão, é citada dentre os
que servem de exemplo para toda a humanidade (Hb 11:11). O próprio Jesus
evangelizou a mulher Samaritana e tratou-a com amor e dignidade, embora tivesse
ela uma vida totalmente imoral (Jo 4:9). Jesus perdoou a mulher adúltera e
mostrou que é totalmente contra o machismo, claro, ordenando que ela não
adulterasse mais (Jo 8:7-11). Cristo honrou todas as mulheres, pois após a
ressurreição, apareceu, primeiramente, para uma mulher: Maria Madalena (Jo
20:11-18) Esta mesma mulher, Maria Madalena, teve a honra de ser a primeira
pessoa a anunciar a ressurreição do Salvador (Jo 20:18). O apóstolo Paulo
destaca figuras femininas que foram destaque no seu ministério (Rm 16:12). A
Bíblia Sagrada proíbe o homem de ter mais de uma esposa (Gn 2:24, Mt 19:5-6,
1Tm 3:2), proíbe que o homem repudie a esposa, salvo se ela for infiel a ele
(Mt 5:32). As mulheres virtuosas são comparadas a jóias preciosas (Pv 31:10). É
dito que uma boa esposa é uma dádiva de Deus (Pv 19:14). Às mulheres é legado a
capacidade de poder edificar o seu lar (Pv 14:1). Através da instrumentalidade
de uma mulher, o Salvador veio ao mundo (Lc 1:30-31) A Bíblia Sagrada ordena
que as mulheres sejam tratadas com amor e dignidade, Paulo repete isso três
vezes em Efésios 5 (vs 25, 28 e 33). Elas devem ser tratadas com respeito e
dignidade – (1Pe 3:7).
Já que o Sr. Chapman não conhece tanto a
Bíblia, ele deveria se preocupar mais em provar a veracidade dos estudos de seu
bisavô. Afinal, existem muito mais problemas em transformar a “teoria” da
evolução em “verdade absoluta” do que suspeitas para descredenciar o
criacionismo bíblico. Porém, ignorando estes fatos, ele estranhamente faz uma
inversão de valores ao desmerecer os cristãos que acreditam nos relatos
bíblicos, exaltando o ateísmo como posição correta. Grande incoerência!
Na tentativa de desmoralizar o cristianismo,
ele afirma: “Se a única coisa que está impedindo você de matar uma criança é
porque Deus mandou você não fazer isso, você é maluco. É óbvio que você não
deve matar uma criança, você não precisa de que alguém te diga isso. Você pode
ver sofrimento e reagir a ele.”
O argumento que o Sr. Chapmam utiliza é
falacioso! Um cristão não mata crianças só porque Deus mandou não matar (Ex
20:13), mas principalmente porque temos o amor de Deus introduzido em nossos
corações (Rm 2:15, Hb 4:12 e 10:16). É claro que para pessoas como Chapmam,
este amor será algo “maluco”, pois a loucura de Deus é mais sábia do que os
homens (1Co 1:25). Na verdade, sabedoria é o que falta nos argumentos de
Chapman, pois os mesmos contradizem com a realidade. Haja vista, os regimes
comunistas ateus como Josef Stalin, Mao Tsé-Tung e Pol Pot que mataram milhões
de pessoas – inclusive várias crianças – em proporções bem maiores que as
distorções religiosas como a inquisição, o terrorismo e as cruzadas. Até Adolf
Hitler usou a teoria de Darwin como justificativa filosófica para o Holocausto.
[2]
Chapman insiste, afirmando que não
precisamos de ninguém para dizer que não devemos matar uma criança, pois
reagimos naturalmente ao sofrimento. Ele deveria dizer isso a um pscicopata, um
pedófilo ou um sequestrador, que em suas próprias decisões “naturais” matam
crianças, ou então para índios de algumas tribos que enterram crianças vivas
por conta de defeitos genéticos. Quem sabe, perguntar aqueles que matam
crianças indefesas em algumas escolas, atirando loucamente com arma de fogo
para todos os lados, ou então para as seitas que sacrificam crianças em seus
rituais macabros. Por que será que essas pessoas não “reagem ao sofrimento”?
Na verdade, essa tentativa de justificar a
bondade de forma naturalista que Chapman utiliza, parte de uma premissa sem
fundamento. Qual é a base para o princípio de bondade no ser humano? Qualquer
tentativa de responder esta pergunta – ignorando os princípios de Deus como
autor absoluto de bondade e justiça, torna-se subjetiva e incoerente. Por
exemplo, se o princípio de bondade vier instintamente “do que achamos certo”,
trata-se de um pressuposto inconsistente, pois o que é bom para Chapman pode
não ser bom para nós, o que é bom para a maioria, não é bom para uma minoria, o
que é bom para uma cultura ocidental, pode não ser bom para uma cultura
oriental, e assim por diante.
Então, de onde parte esta reação moral do
ser humano? Da possibilidade de que a moralidade estaria embutida no DNA ou em
processos naturais, conforme defendem os darwinistas? Impossível, pois segundo
o darwinismo existe apenas o material, mas o material não possui moralidade.
Qual o peso do ódio? Existe um átomo para o amor? Qual é a composição química
da molécula do homicídio? Perguntas totalmente sem sentido porque partículas
físicas não são responsáveis pela moralidade. Sem uma fonte objetiva e
transcendente de moralidade, todas as questões morais nada mais são do que
preferências pessoais subjetivas. Além do mais, mesmo descobrindo um
“sentimento moral” dentro de nós, não significa que não exista lei moral
objetiva fora de nós mesmos. Portanto, sem Deus não existe referencial fixo
para o princípio de bondade!
Chapman não foi feliz ao concluir uma
opinião sobre o Brasil sem ao menos analisar os fatos verdadeiros. Vejamos a
afirmação dele: “Se você analisar sociedades com menos envolvimento religioso,
como Suécia e Escandinávia, os países tratam seus cidadãos melhor do que países
como Irã, Iraque, Paquistão e Afeganistão. Que fazem coisas atrozes às pessoas,
a mulheres, crianças, artistas e homossexuais. Eu conheço o país muito bem, é
que vocês tem um crescimento muito grande de fundamentalistas cristãos e
evangélicos e eu acho que isso é algo que é preciso tomar cuidado, para que
eles não ganhem muito poder.”
O Sr. Chapman formula muito mal o seu
“fundamentalismo ateu”[3], pois mostra-se desonesto ao fazer um falso
julgamento sobre o nosso país sem ao menos conhecê-lo, bem como comparar o
Brasil à países com predominância de mussulmanos radicais. Bastaria para ele
uma simples análise nas estatísticas do IBGE para constatar que os quase 200
milhões de habitantes no Brasil, 86,8% são cristãos, dos quais 64,6% católicos,
22,2% evangélicos; 10,8% sem religião/outros, 2% espíritas, 0,3% ubanda e
candomblé.[4]
Se o raciocínio dele estivesse certo, o
Brasil seria um país confessional e intolerante à outras religiões, não haveria
democracia, teríamos atentados terroristas, perseguições religiosas e matanças
por todos os lados. Ao contrário disto, somos um país miscigenado,
aconfessional, onde convivem o afro-religioso, o espírita, o evangélico, o
católico, o ateu, o mussulmano etc. Nossa Constituição Federal garante
exatamente o contrário do que Chapman afirma: a liberdade religiosa e liberdade
de expressão (art.3 inciso IV, art.5 incisos VI, VIII e IX ). No Estado
democrático brasileiro, o respeito as crenças e valores filosóficos da
sociedade provam explicitamente a democracia estabelecida. Inclusive o nosso
país é presidido por uma mulher, além de possuir uma representatividade
feminina muito forte nos três poderes: judiciário, legislativo e executivo. O
povo elege diretamente suas lideranças através de voto popular. Portanto,
comparar o Brasil com países intolerantes é completamente incoerente, pois é
incompatível com a nossa realidade.
Por fim, o Sr. Chapman foi desonesto em
utilizar de forma pejorativa o termo “fundamentalismo cristão”. Comparar os
fundamentos cristãos bíblicos com distorções religiosas violentas é um absurdo.
Os fundamentos do cristianismo não são ofensivos, muito menos possuem alguma
semelhança com países de predominância de mussulmanos radicais, pelo contrário,
justamente por questões de intolerância religiosa que existem vários cristãos
perseguidos, presos e até mortos nestes países. No cristianismo, os ensinos de
Jesus Cristo convocam até mesmo ao amor pelos inimigos. “Jesus dizia: Pai,
perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem” (Lc 23.34). “Então, Pedro,
aproximando-se, lhe perguntou: Senhor, até quantas vezes meu irmão pecará
contra mim, que eu lhe perdoe? Até sete vezes? Respondeu-lhe Jesus: Não te digo
que até sete vezes, mas até setenta vezes sete” (Mt 18.21-22).
Se o objetivo do Sr. Chapman foi criar
polêmica para aproveitar a mídia em benefício de divulgar o seu filme, creio
que a estratégia não foi das melhores. Com certeza, a grande maioria dos
brasileiros não verá tal filme de conteúdo ateísta, inclusive eu.
Soli Deo Gloria!
Notas:
1 – Oswald 3. Smith, Litt. D.,
artigo extraído de Prayer Crusade, publicada por The Little Church by the Sea,
mc.) Citado no livro: O que
eles disseram a um passo da eternidade, John Myers, pp. 244, Worship Produções,
D’Sena Editora. Para saber mais, clique aqui!
2 –
Adolf Hitler – Mein Kampf, de 1924. Quarta reimpressão. Londres: Hurst & Blackett,
1939, p. 239-40,242 [publicado em português pela Editora Cenrauro, Minha luta].
3 –
Embora muitos neo-ateus discordem do termo “fundamentalista ateu”, o mesmo tem
sentido ao ser aplicado quando um ateu “fundamenta” suas convicções e segue à
risca os preceitos derivados. Desta forma, a colocação ateísta de oximoro para
tal termo é descartada, pois existe uma defesa dos fundamentos de convicções.
Como diria P.E.Johnson: “Aquele q afirma ser cético em relação a um conjunto
específico de crenças é, na verdade, um crente em outro conjunto de crenças.”
4 –
IBGE, senso demográfico 2010.
Fonte: Gospel Mais
http://colunas.gospelmais.com.br/o-fundamentalismo-neo-ateu-falacioso-e-desonesto-de-matthew-chapman_2163.html
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