Geralmente os países nórdicos são apontados como o casamento
perfeito entre avanços e conquistas sociais e o ateísmo. O artigo abaixo
desmonta essa tese e mostra que o ateísmo vem diminuindo em favor do crescimento
de um cristianismo fundamentalista. Entretanto, eu não sei o que o articulista
quis dizer com o uso do termo "fundamentalista". Esse termo é
utilizado com frequência de forma pejorativa, representando aqueles segmentos
da sociedade que desejam impor pela força suas ideias, valores e convicções. Mas,
quando o termo foi cunhado pelos cristãos norte-americanos designava algo
totalmente diferente: aqueles que fundamentavam suas vidas na inerrante Palavra
de Deus. Mas, vale a pena ser analisado.
Luiz Felipe Pondé
Semanas atrás, escrevi nesta coluna
("Quem Herdará a Terra?") sobre uma disciplina chamada demografia das
religiões. A tese do autor em questão, Eric Kaufmann, é que os seculares têm
muitas ideias, mas têm poucos filhos, e por isso em breve o Ocidente perderá em
muito seu perfil secular.
Mesmo aqueles seculares que adotam a teoria
da seleção natural de Darwin como visão de mundo, adotam-na apenas na teoria,
porque na prática não o fazem: seleção natural, no limite, é reprodução; quem
não reproduz desaparece. E as mulheres seculares são inférteis por conta dos
valores individualistas que carregam.
Recebi muitos e-mails (não imaginei que esse
assunto seria um blockbuster) e alguns me chamaram a atenção para um fato
interessante: os ateus (que não são a mesma coisa que os seculares, porque
posso crer numa inteligência organizadora do universo e não crer que ela seja
Jesus ou similar, e viver sem referência a qualquer código religioso) creem
firmemente que dominarão o mundo por meio da educação, das ciências e da
tecnologia. Podem estar bem errados.
O ateísmo vem muitas vezes acompanhado de
uma crença num processo histórico inexorável em direção ao ateísmo universal,
uma vez dadas "educação e cultura" para todos. Esquece, esta querida
tribo, que as pessoas, sim, fazem escolhas baseadas em modos distintos de
valorar a vida e seus sucessos, e que, sim, muitas comunidades religiosas usam
ciência e tecnologias da informação ao seu favor e com grande habilidade.
Antes de tudo, é importante reconhecer que a
sociologia do ateísmo, sim, pode nos fazer crer, em alguma medida, que há uma
relação entre alta formação cultural, boa educação universitária e
"ateísmo orgânico", aquele tipo de ateísmo a que você chega por meio
da escolha livre -e não porque algum regime totalitário (como o de Cuba) ou
pais autoritários proíbem você de crer em Deus ou similar.
Mas o tema transcende essa teoria e é por
demais importante para ser pego nas redes de "pregações" disso ou
daquilo, pelo menos para quem acredita que a sociedade secular deve ser
cuidada, mas não iludida com seus próprios fantasmas de sucesso no futuro.
Vejamos alguns dados dos pesquisadores
Norris, Inglehart, Davie, Greeley, Bondenson e Peterson. Peguemos países
estatisticamente apontados como possuidores de alta percentagem de ateus
orgânicos da Europa ocidental:
Suécia: em 1999, 85% se diziam ateus; em
2001, 69%; em 2003, 74%; em 2004, 64%. De 1999 até 2004 há uma variação para
baixo dos ateus assumidos.
Dinamarca: em 2000, 80% se diziam ateus; em
2003, 43%, e em 2004, 48%. Ainda que tenha havido um pequeno crescimento entre
2003 e 2004, a
queda entre 2000 e 2004 é evidente.
Noruega: em 2000, 72% se diziam ateus; em
2003, entre 54% e 41%; em 2004, 31%. Também queda.
Finlândia: em 2000, 60% se diziam ateus; em
2001, 41%; em 2004, 28%. Também vemos uma redução dos ateus assumidos.
Entretanto, sabemos que pesquisas nem sempre
são precisas e que seus métodos variam e, portanto, seus resultados podem não
ser tão autoevidentes.
Esses países têm visto um número crescente
de grupos cristãos fundamentalistas, mas o importante é entender que esse
crescimento se dá, diferentemente do caso dos EUA, ainda sob grande discrição.
Sem ruídos, mas com determinação.
O caso dos luteranos laestadianos
finlandeses (comunidade luterana fundamentalista na vila de Larsmö) é de chamar
a atenção.
A relação entre a fertilidade de suas
mulheres e a das finlandesas seculares é a seguinte, respectivamente: 1940,
dois bebês contra um; 1960, três bebês contra um; 1980, quatro bebês contra um.
Em 1985, a
taxa de fertilidade de cada grupo era 5,47 para as fundamentalistas e 1,45 para
as seculares.
A maioria das instâncias de razão pública
(tribunais, universidades, escolas, mídia) é, ainda, tomada por seculares. Isso
nos faz pensar que o mundo é "nossa bolha".
Veja que, no Brasil, nem o poderoso
movimento gay conseguiu derrubar o pastor Feliciano. O "lifestyle"
individualista secular é autocentrado e dado a "causas do Face", e
por isso não tem defesa contra mulheres férteis e homens determinados.
Fonte: PONDÉ, Luiz Felipe. Sociologia do ateísmo. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/colunas/luizfelipeponde/2014/03/1420301-sociologia-do-ateismo.shtml>.
Acesso em: 03 mar. 2013.
Nenhum comentário:
Postar um comentário