O artigo escrito por Andrey Gonçalves dos Santos apenas reafirma o
que outros especialistas e educadores já vem argumentando a um bom tempo. A
educação brasileira está parada no tempo e, movida pelas pressões de coletivos,
movimentos e grupos de pressão da sociedade, ela foi dominada por uma pedagogia
enviesadamente esquerdista, que está muito mais preocupada em atender a esses
grupos de pressão, do que mediar o conhecimento e preparar o aluno para a vida
e o mercado de trabalho.
Por Andrey Gonçalves dos Santos
Nos últimos meses venho debatendo e colocando à prova que o atual
método de ensino precisa passar por uma renovação. Afinal, por que a evasão das
salas de aulas tem aumentado tanto? Não se trata de uma única razão, mas um
conjunto de fatores que tornaram o ensino desinteressante.
A escola
não forma um profissional
Alunos aprendem sem saber como aplicar
Infelizmente é uma constatação. A escola forma verdadeiros
“fazedores de lição” que repetem o que é jogado no quadro como se fossem
papagaios. Alunos do Ensino Fundamental e Médio formados pela rede pública
se formam sem nenhum preparo para o mercado de trabalho. Não há uma preocupação
em direcionar a criança e o adolescente para uma carreira e o resultado é
catastrófico. Milhares de jovens formados, simplesmente não têm ideia do que
gostariam de fazer. As carreiras continuam sendo as mesmas procuradas a décadas
porque a escola não abre os horizontes do aluno. Este é um dos principais
fatores geradores do descrédito do ensino e, consequentemente, pelo
aumento da evasão escolar. A grande queixa é:
Vou empatar meu
tempo em algo que não me serve para nada.
Como se as disciplinas convencionais não fossem importantes e
isto não é verdade.
Foco e direcionamento do ensino
As disciplinas convencionais são imprescindíveis para o aprendizado
completo do ser humano, mas falta dar um direcionamento, um foco, um objetivo para
cada disciplina oferecida.
Hoje as disciplinas são apresentadas aos alunos de maneira
compulsória quando seria mais atraente para o aprendizado demonstrar onde cada
ponto pode ser aplicado, estimulando a percepção e até a curiosidade do aluno
em aplicar os novos conhecimentos nas mais diversas profissões.
As Leis da Física
são necessárias para criar os melhores jogos de videogames
Certamente esta informação tornaria as aulas de Física mais
interessantes para os alunos que começam a estudar fórmulas e mais fórmulas sem
sequer saber para que estão aprendendo a calcular. A velocidade de
um passarinho de 200 gramas
arremessado a uma altura de 100 metros em um ângulo de 45 graus sob a
força da gravidade da Terra faz com que ele caia a uma distância a ser calculada
por estas fórmulas. Se este mesmo passarinho for arremessado em Marte, a
distância atingida seria diferente e calculada pelas mesmas fórmulas. Alguém
reconhece este jogo? Preciso falar mais a respeito de como a gamefication pode ajudar no ensino de tudo?
Gamification é o processo que
utiliza conceitos e tecnologias de jogos para atrair, reter e aumentar o uso de
um site ou de um serviço. Tipicamente, a ideia é incentivar os membros a
participarem de desafios ou tarefas especialmente projetadas, para que tenham o
comportamento desejado. Ao participarem de forma satisfatória, conquistam
pontos ou atingem um determinado status.
Angry Birds é um exemplo de jogo que aplica as leis da Física
Então, quando
pedirmos ao aluno para atingir os porquinhos arremessando um dos passarinhos,
estamos, indiretamente, fazendo com que o aluno aplique as fórmulas
para alcançar um objetivo e marcar pontos! Percebam como o ensino da
Física está sendo dado de uma maneira aplicada e completamente direcionada aos
interesses do aluno, tornando o aprendizado mais agradável, divertido e
natural. Sem dúvida, o professor que souber trabalhar aplicando esta
metodologia terá resultados mais eficientes com os alunos que, por sua vez,
desenvolverão um interesse espontâneo pelo aprendizado da disciplina. Sugiro a
leitura do artigo Reeducação Lógica para melhor compreensão.
Reciclagem
dos educadores
Aplicar novas
metodologias e conceitos ao atual modelo de ensino requer mais do que
tecnologia. É preciso reciclar os educadores para que estejam aptos a interagir
com os alunos através de uma nova didática. Tudo o que conhecemos mudou nas
últimas décadas e fica fácil perceber isso ao observar as crianças desta
geração e comparar com as gerações anteriores. Um exemplo muito simples é
comparar as últimas quatro gerações. Vamos lá…
* Meus avós
sequer entendiam com clareza o uso da tecnologia.
* Meus pais
compreendiam a importância da tecnologia, tanto que me influenciaram a estudar
informática.
* Eu não só
tenho fluência no manuseio da informática como sou profissional da área.
* Minha filha
lida com smartphone, tablet, MP4,
e-mails, jogos eletrônicos, redes sociais e fala com muita naturalidade sobre
estas questões desde que aprendeu a falar, praticamente.
Adivinhem
como serão as próximas gerações… Mais íntimas da tecnologia e mais cedo! Notem
que a tecnologia passa a ser algo tão natural que a maneira como pensamos sobre
determinadas coisas mudou e sequer nos demos conta disso! Portanto, se este
pensamento e a maneira de lidar com a tecnologia em nossas vidas mudou,
significa que nos tornamos mais produtivos, conectados, exigentes… Assim como
os alunos também não poderiam ser diferentes. Estão cada vez mais exigentes,
com poder cognitivo mais apurado e precisando de desafios maiores na escola que
se justifiquem.
Melhor
remuneração e fidelização do professor
Desde que
comecei a lecionar não pude deixar de notar a quantidade de instituições que um
professor chega a trabalhar. Isso acaba acontecendo porque a instituição não
oferece uma quantidade de aulas suficientes para que o professor consiga uma
estabilidade financeira. O resultado é o desgaste e perda de tempo do professor
no deslocamento entre as instituições, além de comprometer o rendimento dentro
das salas de aulas. Infelizmente, alguns professores largam a turma mais cedo
para ter tempo hábil de chegar no horário em outra instituição. Quem sofre com
isso são os alunos que acabam perdendo este tempo sem o devido acompanhamento
do professor. Isso acontece porque a remuneração é baixa e fidelizar o
professor não parece ser uma prioridade da maior parte das instituições
(dedicação exclusiva). Contudo, a remuneração de um professor do Ensino Médio
não é das piores, chegando a quase 20 reais / hora aula. Ainda existem algumas
considerações a serem feitas como um percentual a mais para cobrir o tempo
gasto fora da sala de aula para elaboração de material, correções de provas,
lançamento de frequência e notas. Outro ponto positivo é a qualidade de vida,
onde o professor usufrui de um recesso e férias todo ano. Claro que professor
trabalha muito mais do que o período nas salas de aula. As atividades levadas
para casa são muitas e, dependendo da didática do professor, 1 hora de aula
pode representar até 2 horas de trabalho fora da sala. Sendo assim, é
impossível comparar a remuneração de um professor com qualquer outra profissão
no mercado de trabalho. Infelizmente isso faz com que poucas pessoas pensem em
dedicar seu tempo a lecionar e ser professor acaba se tornando um trabalho de
renda complementar (bico). Se é um trabalho para renda complementar, então não
é a principal atividade e, consequentemente, não terá a dedicação devida.
Professores melhores remunerados e com segurança dentro de uma única
instituição é o primeiro passo para pensarmos em melhorar metodologias,
didática e reciclagem dos educadores.
Professor
com experiência de mercado
Está ligado
ao assunto abordado anteriormente, sendo o item de maior relevância dentro do
trabalho que venho realizando. O melhor professor é aquele que tem maior
bagagem a oferecer no preparo dos alunos, principalmente para enfrentar o
mercado de trabalho. Professores de disciplinas da grade curricular padrão
(língua portuguesa, matemática, física, geografia, história, química, etc…)
bastam passar pela reciclagem didática e estarão aptos a continuar oferecendo
todo conteúdo com melhor qualidade e dentro dos moldes que conversamos em Foco e direcionamento do ensino.
No entanto, professores de disciplinas técnicas precisam oferecer conteúdo
atualizado e alinhado com o mercado de trabalho atual. Não adianta querer
ensinar apenas o que aprendeu na universidade. Por este motivo eu aposto muito
no professor que vem do mercado de trabalho com muita bagagem para repassar aos
seus alunos. Eu trabalhei por mais de 20 anos no mercado de tecnologia da
informação, desde programador, analista de sistemas, analista de negócios,
gestor de projetos e, nos últimos anos, gestor de TI, antes de tomar a
decisão de lecionar. O resultado nas salas de aulas são surpreendentes,
mantendo os alunos interessados e focados no aprendizado o tempo todo. Falar sobre
assuntos que domino amplamente e poder compartilhar com meus alunos é tão bom
que as extensas aulas do Pronatec passam rapidamente e, por muitas vezes,
passamos do horário continuando o assunto que aguçou a curiosidade dos alunos.
O melhor de tudo é ouvir dos próprios alunos a proposta de umas aulas extras,
além da grade curricular.
Steve Jobs em discurso memorável em Stanford - EUA
O trabalho de um professor técnico vai além
da sala de aula, recomendando blogs, comunidades interessantes, compartilhando
artigos, encaminhando para cursos relevantes e preparando o aluno para encarar
as dificuldades do mercado de trabalho. Acima de tudo, fazer com que o aluno
viva a experiência e dificuldades dentro da sala de aula para que sua estreia
não seja no primeiro emprego. Resumindo, dentro da sala de aula o que conta é a
experiência a ser passada com segurança. Imaginem o nível das aulas se
tivéssemos estes profissionais experientes lecionando disciplinas técnicas.
Juízes, advogados, dentistas, engenheiros, gestores, analistas, programadores e
todas as demais áreas com seus profissionais dedicando parte do seu tempo para
lecionar. Imaginem o nível de profissionais que estaríamos formando e que, com
o passar do tempo, estes novos profissionais também dedicariam parte do seu
tempo para lecionar, gerando uma corrente positiva para todos nós e para o
desenvolvimento contínuo de todo o país. Se tantas correntes inúteis acabam se
tornando virais, que mal haveria se esta corrente prosperasse?
SANTOS, Andrey
Gonçalves dos. Educação: Ensino precisa passar por renovação urgente! Disponível
em: <https://andreykurka.wordpress.com/2015/01/03/ponto-forte-do-educador/>.
Acesso em: 17 fev. 2015.