O artigo de Rubens Teixeira se sobressai porque denuncia alguns
interesses por trás da liberação geral das drogas na sociedade. Muito se
comenta que o objetivo dessa liberação é minimizar a criminalidade que reina
absoluta por trás da ilegalidade das substâncias ilícitas. Mas, será que a
liberação resolveria o problema? Rubens Teixeira é pastor evangélico da igreja Assembleia
de Deus, Doutor em Economia pela UFF, Mestre em Engenharia Nuclear
pelo IME, Pós-graduado em Auditoria e Perícia Contábil pela UNESA, Engenheiro
de Fortificação e Construção (civil) pelo IME, Bacharel em Direito pela UFRJ
(aprovado na prova da OAB-RJ) e Bacharel em Ciências Militares
pela Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN)
Por Rubens Teixeira
Seria o fim da reputação de um Estado
legalizar o uso da maconha pensando em inibir o tráfico. Primeiro que há muitas
outras drogas, iguais ou piores que esta, de uso e comércio criminoso ostensivo
no Brasil e no mundo. Segundo porque seria absurdo o Estado descriminalizar
algo por não ter força para eliminá-lo. Indo por essa linha, alguém poderia
pensar em propor a descriminalização de todas as drogas, do homicídio, do
sequestro, do estupro, da corrupção e de todos os males endêmicos da nossa
sociedade que o Estado, por alguma razão, não consegue extirpar.
A descriminalização do uso de drogas seria
chancelarmos nosso país como um Estado fraco. Os defensores da
descriminalização do uso de drogas tentam demonstrar que poderia haver uma
diminuição da violência porque, segundo eles, o tráfico seria asfixiado. Em um
mundo em que se traficam armas, e até crianças e órgãos, além de se
contrabandear vários produtos, como eletroeletrônicos, só pelo fato de as
mercadorias legalizadas serem mais caras, seria utópico imaginar que o tráfico
de drogas poderia ser extirpado se dessem algum grau de liberdade ao
comércio deste produto em nosso país.
Por outro lado, com mais usuários, a oferta
também tenderia a aumentar, o que poderia aumentar o tráfico. Caso a venda de
alguma droga fosse descriminalizada, o preço da droga ‘legal’ seria certamente
maior que o de produção clandestina, especialmente por conta da elevada carga
tributária que seria imposta a este tipo de produto. Esta situação criaria um
cenário propício para que houvesse o comércio de drogas legal e o ilegal, como
existe no mercado em diversos outros produtos.
Merece reflexão a possibilidade de que parte
dos usuários, que hoje optam pela relação comercial criminosa com os
traficantes que vendem a droga, não abandonariam seus parceiros apenas porque a
lei teria mudado, tendo em vista que esta relação existe porque esses
compradores convivem de forma tolerante com o crime. Seriam potenciais
financiadores do ‘mercado negro’ da ‘droga ilegal’, em caso de legalização deste
negócio. Os atuais usuários, já acostumados a se relacionarem com os ‘fora da
lei’ que vendem drogas, estariam dispostos a romper com eles e comprar uma
droga mais cara só para tornarem seus comportamentos ‘legais’? Será que o
comportamento adotado à margem da lei decorre de uma necessidade imprescindível
da droga, ou de uma fragilidade que os levou para lá e criou essa situação em
que vivem em simbiose com o crime?
Um país que tem uma infraestrutura de saúde
esfolada não daria conta de sofrer uma maior sobrecarga gerada pelos ‘novos
doentes’ produzidos pela expansão do uso. A realidade é que a descriminalização
do uso e do comércio de drogas ‘beneficiaria’ dois grupos: os empresários que
explorarem a comercialização deste veneno e os atuais usuários, a maioria das
classes A e B, segundo pesquisa já divulgada pela FGV. Esses usuários, boa
parte de elevado poder aquisitivo, que adquirem a droga e financiam com isso a
criminalidade, mas que não querem ter a ‘pecha’ de criminosos ou financiadores
do tráfico, poderão ‘sair do armário’ e não mais se sentirão culpados por
financiarem, literalmente, o armário, no seu significado mais primitivo, que é
o lugar de guardar as armas para atacar a polícia ou assaltar cidadãos –
usuários ou não – ou até para dominarem os espaços em que o Estado não consegue
controlar.
A descriminalização do uso e da venda de
drogas corresponderia à entrega da sociedade às mesmas, para que estas destruam
livremente os usuários e ceifem mais vidas ainda, sob a proteção do Estado. Os
empresários beneficiados em seus negócios de venda de drogas admitiriam ser
responsabilizados objetivamente, independente de dolo ou culpa, pelos efeitos
que seus produtos causarão na saúde dos usuários? Se só querem vender a droga e
depois deixar as pessoas morrerem – especialmente aquelas que não têm recursos
– deixando-as em hospitais desaparelhados, sem tratamentos, isso encerra o
assunto por si só.
Pode alguém interpretar que vender drogas é
dar direito a outras pessoas fazerem as escolhas que julgarem convenientes.
Essa visão não afasta a de que a venda de drogas é uma atitude do
vendedor que contribui para a destruição da vida do comprador. Alguém querer
tomar um veneno para se matar é uma situação muito ruim, deplorável. Uma pessoa
oferecer veneno para outra é algo que merece grande reprovação, mesmo que a
compradora, efetivamente, queira suicidar-se. Se alguém argumentar, em defesa
da descriminalização do uso da maconha, que esta erva é menos nociva que
cigarro, está, literalmente, nivelando o debate por baixo. Seria bom
convencermos as pessoas a deixarem o tabaco e não incentivarmos outras a usarem
um veneno ‘menos letal’.
A legalização do uso certamente levaria a um
aumento de usuários e, com isso, o aumento de seus efeitos na saúde das
pessoas. O Brasil está acompanhando o desespero de drogados e familiares que
querem se recuperar e não conseguem infraestrutura adequada. Se as drogas forem
descriminalizadas, estes males se alastrarão mais rapidamente. Pagarão a conta
o usuário, seus familiares e toda a sociedade não usuária que sofrerá os
impactos do aumento de sobrecarga no sistema de saúde, já exaurido. Aos
usuários restará, portanto, os efeitos danosos à saúde, e ao Estado, a
responsabilidade de tentar recuperar os atingidos pelos efeitos das substâncias
químicas nocivas ao organismo humano. A sociedade, de um modo geral, será
duramente atingida, enquanto os empresários que explorarem esse mercado estarão
usufruindo um lucro macabro.
É preciso, portanto, que a sociedade, de um
modo geral, esteja atenta às modificações que querem inserir no ordenamento
jurídico brasileiro. Devemos ter cuidado para não aprovarem regras que afetarão
nossas vidas, a vida de nossa família e toda sociedade aproveitando-se de nossa
falta de atuação, comprometimento ou discernimento. Como disse Montesquieu, “a
injustiça contra um é uma ameaça contra todos”.
Por último, deixo para reflexão que opiniões
a favor ou contra as alegações apresentadas devem ser sustentadas por
argumentos melhores e mais convincentes. Definitivamente atacar outras pessoas
porque elas pensam diferente não convence e nem contribui para a questão. Neste
jogo, quem sai prejudicado é quem agride, pois mostra falta de cortesia no
debate e baixa adaptação à convivência em uma sociedade democrática. Precisamos
de uma sociedade com mais argumentação, mais tolerância, mais respeito, mais
discernimento e menos maconha e outras drogas ilegais.
Assista, no vídeo abaixo, a entrevista de 10
minutos, na TV, em que falo a respeito da descriminalização das drogas: http://www.youtube.com/watch?v=0qdestyHCko
Fonte: TEIXEIRA, Rubens. A legalização da maconha e a síndrome do Estado
fraco.
Disponível em: <http://colunas.gospelmais.com.br/legalizacao-da-maconha-e-sindrome-estado-fraco_8714.html>.
Acesso em: 27 fev. 2013.
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