O artigo que se segue foi publicado em 2011, mas reflete de forma
bastante atual o que existe por trás do discurso da liberação geral do uso das
drogas. Como sou radicalmente contrário a essa ideia, compartilho mais um
argumento em favor de ações de cidadania visando o resgate das pessoas tragadas
pelas substâncias psicoativas. Leciono em um centro de ressocialização para menores
em conflito com a lei e muitos deles são ou foram usuários de drogas
consideradas "leves" como a maconha. Fica difícil acreditar que a
descriminalização do porte, transporte ou venda de drogas seja a melhor solução
para o Brasil diante do atual quadro social que vivemos no país. Mina
Seinfeld de Carakushansky é Diretora da World
Federation Against Drugs e da Drug Watch International.
Por Mina Seinfeld de Carakushansky
Nos últimos dois anos, o Brasil tem recebido
freqüentes visitas de figuras mundialmente conhecidas,
que aqui vieram juntar-se a políticos proeminentes, em reuniões
onde a tônica é a defesa da liberação das drogas hoje ilegais. Cabe lembrar que
a nossa legislação de drogas é uma das mais liberais do mundo, já que a Lei Nº
11.343, de 2006, restringe somente o tráfico de drogas. O usuário vale-se da
lei apelidada de “Ai, Ai, Ai”: o usuário recebe apenas uma simples admoestação
do Juiz. Na prática, isso equivale a uma descriminalização das drogas.
Coincidentemente ou não, o consumo de drogas aumentou no Brasil, enquanto em
alguns países o uso está em queda.
Cabe lembrar dois exemplos importantes:
o da Talidomida e o do tabaco. A Talidomida foi retirada do mercado em
146 países, apesar de seus excelentes efeitos sedativos, pois ao ser consumida
por mulheres grávidas, ocasionou o nascimento de crianças com atrofia dos
membros ou problemas cardíacos. Hoje a Talidomida é proibida para mulheres em
idade fértil.
Como consequência de todas as guerras do
século 20, morreram 80 milhões de pessoas. Nesse mesmo século, por causa do
consumo do tabaco morreram 100 milhões. Quase todas essas mortes teriam sido
evitadas se os malefícios do tabaco tivessem sido precocemente divulgados de
modo amplo.
Nos debates sobre as drogas que hoje são
ilegais, jamais são mencionados os riscos diretos à saúde, a toxicidade para
diversos órgãos do corpo e, mais importante que tudo, o fato de que as drogas
psicoativas causam dependência.
A ciência já mostrou, através de dezenas de
milhares de trabalhos científicos catalogados e com a chancela de associações
médicas internacionais, que o uso de maconha está associado a muitas doenças,
prejudica a imunidade, e deslancha o ataque cardíaco, além de muitos
transtornos mentais graves. O uso de maconha está associado também a vários
tipos de câncer, inclusive ao câncer congênito em bebês e provavelmente também
danos genéticos. Sabe-se com certeza que os estimulantes como cocaína e
anfetamina causam derrame, ataque cardíaco, psicose, comportamentos perigosos e
até criminosos quando o usuário de alguma dessas drogas está ao volante.
Se tudo isto está bem documentado e é
amplamente aceito pela comunidade médica internacional, por que então não se
diz claramente que o uso de drogas deve ser evitado, e não ser considerado como
um hábito a ser tolerado?
Na Austrália, país que tem uma política de
saúde leniente na área de drogas psicoativas, é de cerca de 70% a taxa de
infecção por hepatite C da população dos que usam drogas intravenosas. O número
de pessoas com esquizofrenia paranóide crônica tem também aumentado
drasticamente nas últimas décadas, devido ao uso da maconha e das anfetaminas.
Ambas são toxinas para o cérebro, e está demonstrado que os seus danos se
multiplicam e se complementam entre si, quando elas são usadas em
conjunto.
Deve-se sempre lembrar que estas drogas
causam dependência. Isto significa que a demanda por cada uma delas é, por
definição, inesgotável, o que torna nula qualquer argumentação – comum entre os
legalizadores – no sentido de que o Governo vai conseguir controlar a quantidade ou a qualidade
das drogas fornecidas. Aumentando o uso de drogas, tanto em termos do número de
indivíduos expostos a elas, quanto em termos de exposição por unidade
individual, as complicações que antes eram raras, tornam-se cada vez mais
comuns.
Como é possível defender a legalização das
drogas nas rodas elegantes ou boêmias, com um olho no uso recreativo das
drogas, e ao mesmo tempo fechar os olhos para os males que elas causam e para a
quase inglória luta do nosso sistema de saúde pública para atender, mesmo de
forma mínima, às necessidades já existentes na população, que não são poucas?
Tenho visto intelectuais e bem-pensantes
defender a legalização das drogas, mas nunca vejo esta posição numa mãe ou um
pai que tem um filho dependente.
Fonte: Carakushansky, Mina Seinfeld de. A farsa em torno da liberação das drogas. Disponível em: <http://www.jb.com.br/sociedade-aberta/noticias/2011/03/09/a-farsa-em-torno-da-liberacao-das-drogas/>. Acesso em: 31 out. 2013.
Fonte: Carakushansky, Mina Seinfeld de. A farsa em torno da liberação das drogas. Disponível em: <http://www.jb.com.br/sociedade-aberta/noticias/2011/03/09/a-farsa-em-torno-da-liberacao-das-drogas/>. Acesso em: 31 out. 2013.
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